segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Parte Dezessete: O que eu preciso dizer, sem dor.

- Então Rilke, o que tens a dizer?
- Estão tão assim ultimamente. Acho que estou antecipando a minha preguiça.
- Preguiça de quê?
- Meu próximo desafio é a Montanha. Subir e descer é a minha meta.
- E já passou a floresta?
- Sim.
- E me diga uma coisa, como foi na Mansão? Encontrou o tal da foto?
- Foi horrível. Eu briguei com o Paulo Pirata porque ele pegou um outro caminho e não me avisou. Até onde eu sei, ele pode ir ou deixar de ir aonde quiser e fazer o que quiser, e não me deve satisfações. Mas quando isso me envolve, acho que gostaria de um pouco mais de er... moral. Entende?
- Entendo sim.
- Você não entende como é bom ter alguém que nos entende.
- Entendo sim.
- Mas o que mais me deixou com raiva foi ele tentando me obrigar a ser feliz. Um dia eu escrevo um manifesto contra a obrigatoriedade da felicidade. Só vou ser feliz quando estiver feliz. Tomei essa decisão. E você não sabe o quanto isso me fez bem.
- Um dia você vai me contar, não é?
- Vou sim. Com certeza.
- E o da foto? Fala homem!
- Foi horrível, já disse. Não sei quem ele é, nem o que pensa. Não houve como conversar direito. Sei que ele carregava uma espada.


- E eu fiquei sozinho à noite, perdido na Mansão. O capitão da Deo e o homem da foto saíram, foram dormir, e eu fiquei lá com medo dos assaltos que poderiam ocorrer do lado de fora. Preferi esperar o dia raiar. E para o quê? Não é que dentro da Mansão me encontrei com um assaltante que me roubou o juízo! Fui fraco.
- E os teus sabres?
- Eu só levei o quinto, por viar das dúvidas e para não estar indefeso. O outro eu escondi onde ninguém mais encontraria.
- E sobre a Floresta?
- Prefiro não comentar agora. Só sei que Decerto provavelmente está começando a ruir. Talvez ela esteja melhor do que eu.
- Como assim?
- Por que as pessoas mentem?
- Você mentiu para quem?
- As pessoas mentem para proteger o que elas amam? Quer dizer, então a verdade não basta para proteger o que verdadeiramente amamos?
- Você mentiu para quem?
- Para aquele quem eu prometi ser sincero.
- E como se sente?
- Com uma rachadura na proa.
- E por que mentiu?
- Porque sou fraco.
- Por que mentiu?
- Medo. Talvez a mentira seja um grande medo. Só os covardes mentem? Eu sou um pirata, mentir não devia ser problema.
- Aí depende do que é ser um pirata. Não concorda?
- Pensava em dizer exatamente isso. Só não disse porque você foi mais rápido.
- E o que você vai fazer agora?
- Torcer pra nem toda mentira ter perna curta. Coloquei a culpa na bebida, mas a culpa mesma foi minha. E para piorar eu não bebo.
- Você acha que ser fraco é ruim?
- Eu acho que eu devo pegar o que eu consegui na floresta e seguir em frente.
- Uma pergunta?
- Não. Perguntas eu não tenho nenhuma. Apenas as respostas, e ainda assim...

Noussa

Hoje eu vi o Pedro que eu estava queixando, queixando o Pedro que me queixou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Parte Dezesseis: Brevitude

Esta parte será breve para não ser muito chata.


Eis que Rilke saiu da cidade pensando saber as respostas. Mas, que que adiantava? Quantas perguntas no mundo poderia ter aquelas respostas? E como saberia o capitão que estava com as perguntas certas em mente?

Caminho um pouco bastantemente. Não tinha em mente que caminhos os levariam, mas sabia que o tempo... o tempo não para. Ainda assim, não quis correr. Mesmo sabendo que o tempo corria, ele resolveu não ter pressa. Caminhou em direção à floresta. Não tinha em mente qual a sua meta, então, estabeleceu a sua meta. Atravessaria a floresta. Apenas. De uma ponta para outra.

De tarde, comeu um pouco e pensou consigo sobre aquela carta. Não conseguia se lembrar se realmente não havia colocado o endereço na carta. E se houvesse endereço? Ficou preocupado por não se lembrar disso. Existem no mundo algumas palavras que ocupam um lugar, mas nunca devem ser ditas.

Caminhando na estrada, o Capitão viu um retrato. Reconheceu Paulo, antigo Peão, agora Pirata também; na foto com outra pessoa. E o Capitão quis conhecer essa outra pessoa. Quem será? O que será? Qual o seu papel, seu lugar no mundo? Será que luta? Que pertence ao mar?
Copiou o retrato para si.

Continou caminhando. Parou. Era possível ver a Floresta se aproximando. Dentro de algum tempo, estaria dentro daquele lugar que no momento era apenas uma vista. E a vista prenunciava uma escuridão.

Que havia lá? Que existem dentro de florestas? Cada pessoa, ao pisar em uma floresta, via algo diferente. Alguns observavam a terra molhada, outro a variedade de insetos, alguns a vida abundante, outros as vistas que enchem os olhos e alguns outros a beleza verde que cercava o lugar.

Fez as pazes com o principe do reino vizinho ao principe do Rilke. Pensou em perguntar sobre a carta, mas teve medo. Então lhe veio em mente uma idéia: O Vinho! Poria a culpa no vinho, obviamente. Pois caso a carta tivesse realmente remetente, era mais fácil pôr a culpa no vinho e resolver a situação.

Era digno?
Será que esse outro príncipe, nessa situação, faria o mesmo ou aprovaria tal atitude? E o capitão não podia nem arriscar pedir conselhos, nesse momento em que se encontrava perdido. E a sinceridade que haviam jurado? - ou quase isso.

Sentou-se. Não chegaria na Floresta hoje; não porque era impossível, mas porque seu corpo parava. Pegou o retrato que copiou para si. Como pode alguém gostar de alguém que só se viu em um retrato? Talvez gostasse mesmo era do retrato e não do que nele estava gravado.

Deitou-se, olhou as estrelas. E para terminar essa parte o mais breve possível, digo que ele disse:

- Amanhã farei um desvio. Talvez Decerto morra, mas antes morro eu se não desviar.

E assim disse seu organismo. Odiava as vezes em que o seguia ao invés da razão, assim como me odeio agora por não ter terminado ainda esta história.

Tentarei ser breve mais uma vez:
Rilke começou a ter sonhos comuns. Sonhos em que ele era apenas ele mesmo, vivendo uma vida comum e fazendo coisas comuns. Quando ele acordava tomava um susto enorme, pois percebia que estava sonhando e não vivendo. Seriamente vos digo: seus sonhos pregavam peças nele, pois o faziam pensar que ele estava acordado, tamanha sua normalidade.

Uma vez - e esse sonho ainda vai ocorrer, pois me adiantei no futuro - Rilke sonhou que seu olho estava com conjuntivite, seu olho direito. Saia muita secreção, tanta que ele mal conseguia enxergar. E ficou se questionando como faria as suas coisas naquele estado. Quando acordou, precisou de quase um minuto inteiro para perceber que aquilo tudo era um enorme sonho.

Tais sonhos metiam medo em Rilke. Eram normais demais.

E eu ainda não terminei essa parte? Ohhh Céus, adoro a vida.

Falta dizer apenas mais uma coisa.
Rilke ligou para Paulo, ambos foram para um lugar - isso já no dia seguinte, começo do desvio da rota do Rilke - conseguir passes para a Mansão. Conseguiram fácil, embora eu ainda me pergunte como os tímidos sobrevivem nesse mundo. E Rilke não parou de perguntar sobre a pessoa do retrato. Como pode?

Agora meu organismo me deu uma vontade súbida de encerrar por aqui, embora eu ainda queira escrever mais alguma coisa. Mas hoje eu tô fraco, falei.

domingo, 31 de agosto de 2008

Cantinho Nosense.

O Nado é o marido da Nada. Mas se não existe Nada, não há lugar para maridos de qualquer tipo. Nado perdeu o seu lugar. Passou a nadar na infinitude das possibilidades da inexistência; sem papel, sem lugar, sem identidade. Nada.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pensamentos Paralelos

Odeio a vida. Mas só hoje.

Algum dia eu escrevo um manifesto contra a felicidade. Ou melhor: contra a obrigatoriedade da felicidade. Ontem eu estava tão infeliz com a situação que eu resolvi algo novo: abracei a minha infelicidade. E isso me fez tão bem! E eu ainda fiz novos amigos e algumas pessoas que apenas me conheciam passaram a gostar de mim. Cara, eu preciso ficar infeliz mais vezes, falei. Acho que eu conheci um pouco do que é estar em pleno funcionamento. Rogers, estrelinha pra você. Mas eu ainda continuo dizendo que "O ser humano é bom por natureza" é o meu ovo. Algumas vezes eu invejo muitos estilos de escritas de pessoas que conheço. Elas dizem que o meu estilo é peculiar, blá blá blá, mas eu ainda as invejo. Mas agora eu já estou bem. Já tive a compreenção empática, já tive a aceitação incondicional positiva, já tive a congruência na relação, agora só falta me agarrar com alguém. Quer saber, cancei de pessoas que não estão nem tiuíu pra mim. Mas isso não significa que eu vá aceitar os pedidos de casamento que recebo. Talvez eu passe a perna em alguém, talvez eu venda 45% do meu fígado por 4000 doláres, talvez eu me jogue nessas boates da vida ou então eu alugue um filme de romance caixa-da-doença e assista com um pote de sorvete napolitano em mãos. Decidi que esse final de semana eu vou sair. Acha que eu vou deixar de sair pra estudar e tirar nota baixa? Queria publicar um livro. Mas só de saber que ele vai ler capitães de Areia eu me sinto melhor. Queria dizer que eu espero. Enquanto isso eu canto "Eu espeeeeee-eeeee-eeero" nas minhas primeiras notas, minha primeira música, meu primeiro amor. Em G D A: Minha primeira vida encarnada. Aí eu tenho que escrever. Amanhã será a parte vinte da história do Captain Rilke. Decerto, sua embarcação, apodrece, e se ele não chegar a tempo será culpa minha. Porque o capitão continua caminhando em frente e em frente, enquanto eu fiquei parado deixando os fatos se acumularem. Talvez a minha life seja um acumulado de histórias escritas e interminadas. Machado de Assis teria vergonha de mim, falei. Pelo menos eu levo Heidegger pra cama. Ele dá o maior caldo, diz o Google. E Lispector... ela me olha com aquele olhar de quem vê as folhas caíndo no chão em todo outono imperceptível como ele só, enquanto toma uma xícara de chá gelado. E eu não tenho como não amá-la.

Hoje eu odeio a vida, falei. E por isso, doa a quem doer, eu não vou agradecer ao cobrador do ônibus. Mas só hoje.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte Quinze: Celebração

O capitão Rilke seguiu caminho por dois dias, chegando então a uma cidade que ficava entre uma floresta, um lago e uma montanha.
Lê entrando ele se deparou com uma grande festa. Todos celebravam os novos guerreiros que pela graça das virtudes das três Deusas conseguiram superar as suas provas finais e se tornaram guerreiros. Era o dia da celebração dos novos guerreiros que lutariam por um mundo melhor. No centro da cidade ficava uma academia e de lá sairiam aqueles que deveriam tornar o mundo um lugar melhor.
O capitão Rilke ficou sabendo disso por causa de um cidadão que festejava. Ele parecia muito responsável. Caminhou um pouco pela cidade, atrás de informações sobre onde poderia conseguir encontrar os três oráculos. Onde estaria o Templo.
- Antes da prova final os guerreiros pedem ajuda aos oráculos. É graças a elas que os guerreiros superaram a prova! Viva aos oráculos!!!, disse um cidadão ao ser questionado, mas isso foi tudo o que ele foi capaz de dizer porque estava embriagado.

O capitão Rilke bebeu dois goles de vinho e observou as pessoas ao redor. Estavam animadas, dançavam, pulavam, bebiam. Bebiam vinho. Havia um ou outro casal se beijando. Então o capitão bebeu mais um gole de vinho.
- Odeio vinho.

Tornou a perguntar sobre o templo, sobre os oráculos. Deu-se conta que algumas das pessoas que estavam na festa não pertenciam à religião que dava base para a celebração. Várias delas inclusive não sabiam nada sobe o templo ou sobre os oráculos.
- Nunca ouvi falar., disse um rapaz antes de beber dois goles de vinho e ir dançar com uma menina.

Que tipo de festa é essa? Se surpreendeu ao ver que os antigos casais se separaram e foram formados novos. É a realidade. Pelo menos existe uma pessoa responsável, que sabe das lendas e conduz parte da cerimônia. Pelo menos um responsável.

A festa corria, pessoas dançando, bebendo, beijando. Como são os nomes dos guerreiros que passaram no teste? Apenas a quarta pessoa para quem ele perguntou soube responder. Era parente dele. A cidade gritando e cantando e o pirata andando e perguntando.

Quis se perder. Por um instante ele se esqueceu de Decerto e da missão que incubira a si próprio. Ninguém o cobraria nem o repreenderia caso ele abandonasse a missão ou falhasse. Encontrou-se com uma amiga de cabelos de fogo, mas ela havia bebido tanto vinho que estava alterada. Queria dar para qualquer um. O capitão a segurou em um canto para que ela não fizesse besteira, e ela começou a chorar. O capitão tentou consolá-la, mas enquanto o fazia tudo voltou aquela mente, e ele começou a chorar a com ela.

Desistiu de se perder. Não havia mais como, Decerto o esperava. Tem coisas das quais não se podem fugir. O compromisso que um homem faz consigo mesmo é uma dessas coisas. Estava livre de qualquer perseguição por parte da mulher com asas que controlava os mortos. Ainda assim, precisava voltar, pois mais importante do que viver era ter uma vida digna.

Escreveu uma carta com o pior de si. Escreveu todas as palavras com rancor que queria dizer. Terminou. Estava de bem consigo mesmo, só faltava enviar para o correio. Era preciso enviar, mas não queria que nenhuma das suas palavras chegasse aos ouvidos do seu destino. Era o pior de si que escrevera aquilo, mas Rilke não é só pior, pois também existe um melhor de si em Rilke.
Colocou a carta no correio. Como não tinha colocado destinatário, a carta não chegaria. Eram palavras que precisavam ser ditas, porém não ouvidas. E depois de enviar a carta ele se sentou e chorou. Haviam algumas pessoas embriagadas chorando também, mas nenhuma chorava como Rilke. Seu choro era autêntico, embora disfarçado de embriagueis, pois nem todo pirata é totalmente corajoso. No final das contas ele ganhou um chocolate.

Teve uma idéia. Foi atrás do homem responsável. Talvez ele soubesse onde estaria o templo. O encontrou beijando duas meninas. Ao mesmo tempo.
Naquele arrisco ou não arrisco, ele aproveitou para arriscar. Pegou o homem responsável em uma brecha e lhe perguntou:
- Onde fica o templo dos oráculos?
O homem responsável o olhou com os tortos olhos.
- É o quê macho?
E voltou a beijar as duas garotas. Ao mesmo tempo.

Perdido, caminhando por aí, andou e pensou. Lembrou das coisas que viveu, lembrou das horas que sofreu. Sentiu a presença do Dragão que o perseguia, o vigiando, chegando sorrateiramente, mas não se importou. Nada mais importava. Seu coração estava o levando. Seus olhos não viam o que viam, estavam voltados para dentro.

- Você! Que dia é hoje?
- É dia de alegria e de festa., disse o homem no chão sem forças para se erguer e segurando uma garrafa de vinho quase vazia (parte do seu conteúdo estava no chão).

Caminhou.

Quando deu por si, estava na frente do templo. Arriscou entrar e se deparou com umas doze pessoas que agradeciam aos oráculos pelas conquistas dos jovens enquanto o resto da cidade festejava e bebia. Parou em frente a uma estatua de três jovens.

- Com licença, onde eu encontro os três oráculos?
O clérigo lhe respondeu.
- Estão diante de você.

Rilke observou as estátuas – na verdade era uma só. Das três mulheres uma estava claramente em movimento, outra segurava uma lira enquanto a terceira estava parecendo falar.

- Os três oráculos vieram para o mundo faz muito tempo, mas as pessoas não as reconheceram e as abandonaram. Ainda assim, elas suportaram muitas coisas para tornar essas terras um lugar pacífico. Enfrentaram os três monstros que dominavam essa região.
- Na floresta, na montanha e no lago. É?
- Sim. Exatamente. Mas, o que você procura viajante?
- Respostas.

- Uma delas toca música, a outra dança e a terceira canta e declama poesias. São as Deusas da coragem, da força e da sabedoria.

- Um dia um viajante de longe aparecerá e...
- Obrigado pela sua ajuda.
- Já vai?
- Sim. Já sei as respostas das perguntas as quais não conheço.

E foi assim que aconteceu, naquelas poucas frases enquanto a cidade celebrava.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Poesia e Saudade

Hoje eu achei uma poesia minha. Estava em uma agenda do ano de 2000, mas que ganhei e usei (pouco, confesso) no ano passado. Por curiosidade, a poesia estava no dia 23 de Abril. Dia 24 é meu aniversário. Tenho certeza apenas do porquê de tê-la escrito.

SE NÃO FOSSE O MARCA PÁGINA

Eu só queria não ter
medo de papel
medo de avião

Eu só queria saber qual

desequilíbrio (meu)

me mantém de pé
me amntém a par
me mantém...

...apenas me mantém!

Guarde uma parte de mim

em seu coração e me

diga tudo bem

e me diga sempre alguém

merece o nosso amor.


PS: Só por curiosidade, meu aniversário em 2000 caiu em uma segunda.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Letra de Música

HARD TO EXPLAIN - THE STROKES

Was an honest man
Asked me for the phone
Tried to take control

Oh, I don't see it that way
I don't see it that way

Oh, we shared some ideas
All obsessed with fame
Says we're all the same

Oh, I don't see it that way
I don't see it that way

Raised in Carolina
"I'm not like that"
Trying to remind her
When we go back

I say the right things but act the wrong way
I like it right here but I cannot stay
I watch the TV; forget what I'm told
Well, I am too young, and they are too old
Oh, man, can't you see I'm nervous, so please
Pretend to be nice, so I can be mean
I miss the last bus, we take the next train
I try but you see, it's hard to explain



Essa eu dedico pro Meu Dragão Marinho

Diálogo

Esse diálogo ainda vai estar em um dos meus jogos. Possivelmente na minha obra-prima, que apenas irei produzir depois de ter fama e recursos suficientes para produzi-lo.

(Quando falo obra-prima, me refiro ao jogo do Raymond em busca de um futuro perfeito)

- Essa rosa é para você.
- Obrigado. Erh... engraçado, rosas são a perfeita materialização do amor.
- Você acha? Por que?
- Porque murcham.


E ainda:

- Eu... eu sempre quis lhe dizer isso, mas... eu te amo.
- Ray... eu... eu quero acreditar em você. Sempre quis.
*Raymond se aproxima para beijar Virgínia*
*Virginia vira o rosto para Raymond*
*Ray vira o rosto ao mesmo tempo em que Virginia tenta beijar Raymond*
BRAAANG
- Você ouviu isso?
- Isso o quê?
- Pareceu o barulho de algo se quebrando. Talvez a janela.
- Nâo, eu não ouvi nada.
- Deve ser ele.
- Ele quem?
- O seu assassino.
*Raymond começa a andar em direção as escadas*
- Raymond! Como assim?? Raymond!!!


E ainda:

- Por que você me odeia tanto?
- Por que eu não tenho mais nada no mundo além de você.

domingo, 17 de agosto de 2008

Cantinho Nosense

- Eu preciso lhe dizer uma coisa.
- Sou todo ouvidos.
- Por favor, se coloque no meu lugar.
- Ai meu Deus, está me deixando preocupada.
- Você promete não me julgar?
- Ai, fala logo!
- Eu perdi a virgindade.
- Ahhh, era só isso. Tem problema não, mais tarde a gente compra outra.

OO

sábado, 16 de agosto de 2008

Parte Quatorze: Nemesis

O capitão Rilke acordou, embora ainda houvesse um breu no seu quarto. Pegou os dois sabres com o qual estava, destrancou a porta e saiu. Percebeu marcas no lado exterior da porta, arranhões. Andou cautelosamente pelos corredores, com um sabre à mão e o lampião na outra. Deu ma olhada rápida na dispensa e mastigou umas poucas bolachas que sobraram. Então se dirigiu à sala onde guardava os seus tesouros. Não havia marca nenhuma na porta, e isso trouxe grande alívio para o capitão Rilke. Ele entrou e trancou-se lá dentro.

Começou a arrumar as coisas. Tinha a pretenção de sair daquele lugar e de posteriormente voltar. Descobriria uma forma de tirar Decerto do cemitério antes que ela aprodecesse. Ele não tinha a menor garantia de que existia essa forma, mas ainda assim ele pretendia seguir em frente, e não desistiria do seu objetivo. Achou-se a pessoa mais forte do mundo.

Rilke colocou todos os sabres na estante que tinha para eles. Tinha esse costume, antes de escolher quais iria levar consigo ele os colocava todos na estante onde eles são guardados, inclusive os sabres que carregava consigo, e só então escolhia quais levar. Resolveu ele que carregaria o segundo, o terceiro e o quinto sabre. O primeiro e o quarto permaneceriam.

Quando saiu o que viu foi uma imensidão cinza. Cinza. Era assim o tempo no Cemitério quando o sol estava a pino, enquanto que de noite a escuridão dominava. Pelo menos não fazia calor. Sua retirada daquele lugar seria naquela hora, quando as coisas estavam mais visíveis - ou menos invisíveis. Desceu da Decerto e começou a andar pelos restos de outras embarcações que haviam por lá. Olhou para trás e encarou Decerto, sua embarcação.

- Isso não é um Adeus, é um até logo.

Dizem que na verdade não foi Ira Divina que transformou Pravoka neste cenário de morte, mas sim o azar. Dizem que um Dragão Negro muito forte resolveu tomar aquela região como seu dominío, e que as alterações naquele lugar como a água escura e o céu fechado são efeitos da permanência da criatura, pois Dragões e criatura de grande poder são capazes de mudar o ambiente ao seu redor se permanecerem por algum tempo.

Quando Luto estava próximo Rilke sabia. Algo de diferente havia no ar. Porém, o Dragão marinho que perseguia o Capitão Rilke estava o vigiando agora à distância. De fora do cemitério. Luto não queria se aproximar, mas ainda estava próximo à Rilke, e o pirata sabia disso por causa da sensação que tinha quando o Dragão Marinho estava próximo.

Rilke andou um pouco, pulando de resto em resto de embarcações. Não queria tocar na água. Tinha medo. Mas só porque tinha medo, não necessáriamente precisava tocar na água para vencê-lo.

Avistou um vulto na proa de um navio negreiro não distante. Ficou quieto e em silêncio, apenas observando o vulto se movendo lentamente até desaparecer. Então continuou a andar, sem olhar para trás. Parou um instante, pois pareceu ouvir algo. Aquilo gelava a sua alma, embora não pudesse reconhecer direito o que era.

Andou por cima de um mastro boiando. Aquele mastro era tudo o que sobrou de um grande navio imperial. Por ser grande, era possivel ficar em pé nele, sem escorregar para os lados. Subiu em uma embarcação de médio porte, mais ou menos do tamanho da Decerto. Avistou terra firme naquele quase pantâno. Também observou Decerto. Que destino teria?

Aconteceu de Rilke, naquela mesma embarcação, ter a impressão de que viu alguém nas redes das velas. Aquele lugar era de gelar a espinha. Ficou olhando o lugar por um tempo, mas o vento atrapalhava balançando as velas. Então, sentiu uma presença, esta que vinha da sala do capitão. Havia alguém lá. Sim, este lugar dá nos nervos! Ficou em dúvida se chamava por alguém, era notável seu nervosismo. Então a porta se abriu sozinha e muito, mas muito lentamente. Rilke ficou parado. Quando a porta terminou de abrir, a escuridão era tamanha que não era possível ver nada dentro. Rilke segurava um dos sabres pelo cabo, sem tirá-lo da bainha ainda. Então se lembrou de que estava sozinho. Se ele estivesse com três sabres em mãos, quem poderia chamá-lo de ridículo ou de medroso? Ainda assim, permaneceu do jeito que estava.

A visão de adaptou e Rilke viu que não havia nada lá. Tranquilidade momentânia que foi interrompida por um sussurro gutural de grande lamento e pesar, e que apontava vir do vazio daquela sala. Rilke deu meia volta e saiu. Andou mais um pouco, a mão no cabo do sabre, o terceiro, e ele em instantes chegou na terra firme. Estava proximo de sair daquele lugar, quando um mercenário puxou a espada e colocou a ponta lâmina no pescoço do pirata. Então, lentamente o mercenário moveu a sua espada indicando uma direção. Rilke viu para onde ele apontava, para uma caverna, e quando deu por si o mercenário não estava mais lá.

A Caverna era um túnel largo que levava para uma câmara onde estava uma mulher com roupas de muito luxo e asas de gavião saindo das costas, enormes, e da cabeça, muito curtos.

- Se apresente.
- Eu sou o Pirata Rilke, capitão da ilustre Decerto, embarcação nascida para o mar, e portador de cinco sabres.
- Ora, mas que presença ilustre e cheia de títulos. Desde que os quatro cavaleiros passaram por aqui que este lugar não recebe visitas tão honradas.

Havia um tom de sarcasmo na sua voz.

Quando deu por si, estava ele cercado de cavaleiros, desportistas e piratas, todos com espadas e alguns com sabres nas mãos.

- O terror estampado em sua cara me é muito prazeroso.
- O que deseja.
- Saber quem você é. E, se eu não gostar de você, não o deixarei partir. Se gostar, pode ir embora e nunca mais voltar.
O coração do Capitão Rilke acelerou. Precisava agradar aquela mulher, mas...
- Eu vou voltar. Não posso deixar a minha embarcação aqui.
- Que tipo de mentira é essa?
- Não é mentira. Estou saindo com o intuito de encontrar uma forma de tirá-la daqui. Imagino eu que seja com um Timão Novo, então, quando o tiver em mãos eu voltarei e irei retirar minha embarcação daqui.
- Hummmmm...
- Me desculpe por não tentar lhe agradar, mas preciso dizer a verdade.
- Não, você me agradou. Um ser mediocre como você, tentando viver de uma forma não tão mediocre, lutando para ser alguma coisa. Sim, eu vejo através de você, pois todos vocês são muito fracos.

- Porém, são aqueles que me agradam que na verdade ficam presos aqui.
Dizendo isso todos os presentes na sala sacaram suas armas.
- Porém...
E aquela mulher se deliciou com o misto de emoções que passavam pelo capitão Rilke, desespero e esperança. O efeito de um porém na vida de uma pessoa.

- Vou lhe dar uma chance.

- Seu navio foi o ultimo a chegar não foi? Pois bem, ele ainda está vivo, porém, sua embarcação está começando a morrer, e vai morrer aos poucos enquanto estiver aqui. Irá demorar um pouco mais do que o normal, por sua causa, mas ainda assim irá morrer.

- Se quiser salvar a sua embarcação, você vai ter que descobrir três perguntas, cujas respostas você já sabe. Essas três perguntas você só saberá quando decifrar as respostas, e você só as decifrará em combate. Existe uma montanha, um lago e uma floresta. Mas antes você deve encontrar uma igreja se encontrar com três oráculos de uma religião famosa por essas bandas.

- E quando você souber as perguntas, volte, e então, se estiverem corretas, lhe direi como remover Decerto daqui; mas se estiverem erradas, você será como eles. Apenas uma sombra do passado.

Rilke consentiu.
- Existe mais um porém para você. Uma pergunta, e quero sua resposta. Como saberei que você realmente vai voltar?
Rilke disse sem pensar.
- Com uma garantia.
A resposta só poderia ser essa.
- Quero de você algo que valha mais do que a sua vida, algo que você não poderia deixar para trás, por nada nesse mundo. Existe tal coisa? É a minha condição.
- Existe.
Então o capitão Rilke retirou um dos seus sabre e se aproximou da mulher. Todos os guardas delas avançaram para o capitão, mas suas lâminas cortaram apenas o ar, atravessando o corpo do capitão sem lhe causar dano. Rilke segurou o sabre pela lâmina e estendeu o cabo para a mulher, que segurou o sabre e contemplou o próprio rosto refletido na lâmina.
- É um belo sabre?
- Para mim é uma das cinco mais valiosas peças que existem no mundo. Não existe nada de tão precioso que valha a pena deixá-la para trás.
Era o segundo dos cinco.
- Pode ir então.

O capitão Rilke deu meia volta e se retirou. Antes de sair, a mulher com quem conversou lhe dirigiu a palavra pela ultima vez.
- Rilke......... não morra antes de voltar.

Ele saiu daquele aposento, e só então se permitiu viver todos os terríveis sentimentos que teve lá. Teve vontade de chorar. Sim, ele iria chorar, mas apenas depois, quando estivesse longe dalí. E o que sentiu foi algo tão forte, que ele nem voltou para dizer o que tinha esquecido de dizer. Ele apenas se retirou e pensou nas exatas palavras que queria ter dito: Cuide disso com a sua vida.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Parte Treze: Como nascem as aventuras

Decerto, nome do navio pirata, ficou vagando pelo mar depois que teve o seu leme destruído pelo seu capitão. Rilke, o capitão pirata que conduzia Decerto pelo mar, não conseguia repousar apesar dos ferimentos que tinha pelo corpo. Aconteceu que ele enfrentou um cavaleiro, e esse combate foi por demais duro. E o nome do tal cavaleiro era Rilke.

O céu estava escurecendo. A comida estava acabando. O que havia a ser feito era cuidar da Decerto enquanto ela estava vagando pelo mar. Haviam as manchas de sangue pelo convés, haviam coisas a reorganizar na embarcação. Rilke fazia mais do que era necessário, mesmo com o corpo ferido. Isso porque esperar era ruim demais. Decerto vagava para o seu destino. Rilke sabia para onde estava indo. Só havia um único lugar para onde a embarcação poderia estar indo.


Sempre que um navio fica sem rumo ou naufraga, as mulheres dos seus tripulantes choram, pois não há retorno. Contam essas histórias para as crianças e até nos altos meios das facudades de navegação.

Existe um lugar para onde todas as embarcações sem direção rumam. Esse lugar é o cemitério. Mas não um cemitério de pessoas, na verdade, um cemitério de navios. Um lugar amaldiçoado, temido pelos que possuem embarcações, seu nome é usado em pragas rogadas para homens do mar. Um lugar onde só há morte.

Houve uma vez uma cidade portuária chamada Pravoka. Era uma cidade prospera e de gente de bem. Haviam naquela cidade piratas e navegadores; mas principalmente piratas. E os habitantes do lugar aprenderam a viver pacificamente com os piratas. Era bonita a cidade. Exalava uma grande paz, e as construções não eram altas e nem a luz artificial apagava o céu à noite. E havia água cristalina que corria pela cidade.

Um dia, porém, o céu escureceu mesmo com o sol a brilhar. E foi então que o mar engoliu a cidade, deixando-a submersa até doze metros acima da altura da maior casa. E os navios que estavam aportados lá permaneceram lá. Como seus donos estavam mortos, as embarcações começaram a morrer também. E desde aquele dia, sempre que uma embarcação fica vazia ou perde o rumo, ela vai parar na antiga Pravoka. Os ventos agem diferentes com esses barcos, de forma que eles sempre vão para o cemitério. Até os barcos que naufragam vão para lá; são arrastados embaixo d'água.

Quando acordou de manhã o capitão Rilke sabia que não mais estava em alto mar. Saiu para o convés e viu uma multidão de embarcações encalhadas. Claro que Decerto era uma dessas embarcações. O céu estava incrivelmente nublado, e o cinza escuro denunciava que já estava quase no fim da tarde. A água era escura. Céus como ela estava escura!!! Havia ouvido que antigamente as águas em Pravoka eram límpidas, mas o que via estava mais para lodo do que para água.

Resolveu que iria dormir. Era o melhor a fazer. Não era burro de andar pelo cemitério à noite, na escuridão. Antes de ir dormir pensou em qual ou quais sabres levaria consigo. E pensou também o que deveria fazer. Deitou-se. Por um momento se desesperou. Seria possível salvar Decerto? Isso porque uma vez que as embarcações chegam ao cemitérios, elas começam a se deteriorar, a se apodrecer. E muito provavelmente com Decerto não seria diferente.

Por que naquele momento ele quis se auto-destruir? Aliás, ele quis se auto-destruir? Seus lábios se mecheram lentamente enquanto pronunciava um nome que há tempos não pronunciava, então ele adormeceu. Alí, deitado na sua cama, com um dos seus sabres à mão e outro ao alcance, e uma vela acesa em um lampião. Então, alguns poucos momentos depois, ele acordou, trancou a porta do quarto por dentro e voltou a dormir.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Algumas frases soltas

Estou fazendo malabarismo com o microondas.

Adoro.

Isso pra preparar um negocio que eu nem gosto. Mas eu preciso comer por causa das amarras sociais que me prendem.


Imagino que as pessoas que iriam ler o meu blog não mais lerão. Isso por o título os assustaria. PARTE TREZE sem se ter lido as doze partes anteriores ou pelo menos parte delas, não é para qualquer um. É preciso coragem. Não me importo muito. Eu escrevo mais é para mim mesmo - mas se eu ganhasse comentários, iria ficar feliz, quem não fica?

E pensar que pra ler da parte TREZE até a parte sei lá qual não é necessário saber muito do que existe antes...

Olha, ele faz psicologia e os nossos nomes combinam. Nascemos um para o outro.
Okay, hora de voltar à realidade. Eu nunca sequer ouvi a sua voz.

A primeira vez que eu me apaixonei, ficou um timbre cantando no meu peito.

Meu DEUS!!! O microondas caiu no chão!

Na verdade, é a minha ezquizofrenia. Ele ainda está pendurado alí. Mamãe não vai me matar hoje.


Gosto quando as minhas crenças são abaladas porque serve para me lembrar que eu não sei de muita coisa. Porém, o mais importante não é o saber, mas a capacidade de aprender.

Eu sei que vou reprovar Fisiologia. E NÃO DISCUTA COMIGO!!!

Tento ser original.
Não nos meus textos, na minha vida.

David ama Liana. Sentimento doido. Não preciso beijá-la, quero que ela beije quem ela ama.
David ama muita gente. Muita gente gosta de David. E David abraça isso com toda disposição que houver. Nessa vida eu não quero mais me anestesiar, pois quando tiver 30 anos poderei dizer que passei exatamente metade da minha vida sem viver.

O que é que eu digo mesmo? Erh.... queria preencher um espaço entre dois paragrafos que já escrevi. Direi que... eu luto. E que eu não tenho a menor vontade de comer esse troço que está ao meu lado. E eu sou uma pessoa clichê. Porém..... lá no fundo... existe algo. Sim, eu sei que algo existe. Não tenho como provar que algo existe nesse mundo, mas eu tenho fé.

Adoro quando escrevo coisas que saem da pele e não da mente. Isso ainda é enrolation. Chega de enrolation - mas deixo bem claro que se trata de um enrolation sincero, do fundo do peito.

Ser feliz é para os fracos, falei. Prefiro mil vezes viver. E qualquer vida para mim não vale. Precisa ser verdadeira. - E eu sei que muito ainda tenho nas costas a suportar.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Parte Doze: Combate LADO B

- Então o seu nome é Rilke...


Com estas palavras o capitão da Decerto pôs-se em posição de combate. Se encararam por um instante os dois Rilkes. O pirata apontado o Sabre em direção ao cavaleiro de espada. Aproximou-se, apenas dois passos. A ponta do sabre encostou na ponta da espada. Era um momento de tensão e de grande estranheza para o Rilke pirata. Naquele momento, com tudo o que estava acontecendo, como se não tivesse realmente nada pra pensar, acabou imaginando o que iria acontecer se surgisse alguém e chamasse pelo nome Rilke. Não que isso fosse acontecer, mas ele assim imaginou. E em que momento imaginou!


O pirata avançou com o seu sabre na direção do inimigo que evitou o ataque com a espada. Mais uma vez, e moveu-se para atacar. O cavaleiro leu o seu movimento: corte pela esquerda. Com a espada bloqueou, e planejou atacar pela esquerda, em uma lua de baixo para cima. O corpo do capitão reagiu a tempo, a espada passou de raspão no ombro do capitão, que apenas depois percebeu o que acontecera, e quando deu por si já tinha feito uma investida contra o cavaleiro, fazendo um corte no seu pescoço. Ele se movia primeiro, e depois pensava. Era o instinto que o movia. Ambos tinham técnica, haviam treinado as artes das lâminas, mas o pirata era movido pelo instinto. O cavaleiro deu mais uma investida, sendo aparada a espada pelo sabre. Com um movimento, o Rilke cavaleiro deu uma volta e tentou atingir o Rilke pirata que sacou uma adaga e parou a lâmina. Se olharam por um instante, as duas lâminas do capitão segurando como uma tesoura a espada do cavaleiro.

Então os dois Rilkes guardaram as suas armas.
- Aqui não é lugar.
- Concordo.
- Tenho uma idéia de onde poderia ser o lugar.
- Para mim está bem.


Saíram da Taverna os dois, e começaram a caminhar por entre as árvores de uma floresta, em silêncio. O pirata com o seu sabre guardado na bainha e o cavaleiro com a sua espada em mãos. Rilke, o pirata, sabia que podia contar com a honra do seu adversário, enquanto Rilke, o cavaleiro, não podia contar com ela, pois o seu adversário era um pirata. E os piratas, por mais que fossem honrados, não podiam esperar que ninguém confiasse na sua honra, pois são piratas. E isso fazia a vitória dos piratas maiores. Diferentemente do que sabemos, a vitória não é algo de grande sabor e prazer, mas sim um grande ato de dor, pois é através dela que a alcançamos. Sim, por mais difícil que seja para qualquer um aceitar, as verdadeiras vitórias não são alcançadas com suor, mas sim com sangue.

Chegaram ao lugar do confronto. Uma pequena elevação rochosa frente ao mar. Era possível ver a Decerto dali, que escondida entre as grandes rochas. Logo aquele lugar.

Quando se virou em direção ao seu desafiante, ele já estava em posição de combate, esperando o capitão fazer o mesmo. Ele o fez, e disse:
- Boa sorte.
- Igualmente.

Então os dois voaram, um em direção do outro, e do rápido primeiro encontro das lâminas, faíscas saltaram. Então as espadas novamente se encontraram, de forma mais demorada. Ambos ficaram face a face, demonstrando a força que faziam nos braços com os rostos. Ambos recuaram dois passos, preparando-se para um novo embate e foi então que aconteceu. O primeiro golpe. A lâmina da espada deu uma grande investida e o capitão pirata, ao invés de defender-se com o sabre, deu um salto para trás, resultando em um rasgão nas suas roupas e algumas gotas de sangue escorrendo por este rasgão.

O capitão Rilke encarou o seu adversário: ele o odiava. Acontecia do Rilke pirata nunca odiar ninguém, apenas uma vez e por um dia um tal homem cercado por gaviões e uma vez, por um final de semana, um príncipe. Mas dos homens contra quem lutava, não nutria ódio algum, pois cada pessoa que luta, luta por alguma coisa, e movido por alguma força, alguma paixão.

O capitão segurou firmemente o cabo da espada com uma das mãos e partiu com tudo contra o cavaleiro. Por isso eram ruidosos os encontros das lâminas as armas dos dois combatentes. O Capitão Rilke cortou o Cavaleiro Rilke duas vezes, tirando também sangue, do seu ombro, mas a custa de um grande corte que recebeu nas costas. Caiu de joelhos, e a primeira coisa que avistou foi Decerto ancorada. Em um salto, já estava novamente de pé. Virou-se e tentou acertar o cavaleiro com um golpe falso. A espada do seu adversário recuou, e no intervalo de tempo que havia para atacar, o capitão se jogou contra o cavaleiro e o seu sabre lhe cortou a armadura. Estavam mais uma vez cara a cara. Rilke percebeu que realmente não gostava do seu adversário, então...

Quando deu por si, já estava no chão, apoiando-se com os joelhos e as mãos. O golpe lhe havia acertado o braço direito e a coxa esquerda. Cuspiu sangue. Mas não uma rajada de sangue, como sempre vemos nos filmes; ele cuspiu apenas algumas gotas de sangue. Havia um corte no seu abdômen também. Como? Perdeu-se no olhar. Perdeu-se em um olhar.

Os dois ficaram um pouco em silêncio. O capitão mais uma vez cuspiu sangue, e o Rilke cavaleiro quebrou o silêncio com as suas palavras.
- Por que não soltou o sabre?

Aquelas palavras feriram o capitão. Mais do que os cortes que ele tinha pelo corpo. Ele não soltou o sabre que carregava, apesar do ataque que havia recebido. Ele riu. Pensou consigo “justamente o terceiro”, e cravou a espada no chão, tentou levantar-se a usando como apoio. Se ele pudesse ficar de pé, havia como vencer a luta. O cavaleiro também estava exausto e também estava ferido.

- É por ele que você luta, não é?

O capitão Rilke ficou surpreso com a pergunta. Olhou no rosto do seu adversário e percebeu que este também estava surpreso. Os lábios do cavaleiro voltaram a se mecher.

- Sim, você luta por ele. Neste instante ele talvez esteja dando a bunda e nem se lembre da sua existência. Talvez ele já tenha se entregado ao mundo dos prazeres dentro daquele grande castelo, talvez ele já tenha até te esquecido, esquecido tudo o que você o ensinou, ou pior: talvez ele tenha até pisado em toda esperança que você colocou nele, mesmo na partida; mas ainda assim você luta por ele. Luta para construir um mundo melhor na esperança deste mundo também o alcançar.

O pirata se pôs de pé e retirou o sabre cravado do chão. Disse baixo:
- Quem sou eu?

- Me enfrente, e talvez você descubra.

Os dois ficaram novamente em posição de batalha. Encararam-se por um segundo.
- Este será o ultimo golpe.
- Era justamente isto que eu ia lhe dizer.

Então correram um na direção do outro, com todas as forças e novamente as lâminas se encontraram. Os dois colocaram toda a força que tinham, frente a frente, lâmina contra lâmina. O capitão pirata sentiu que ia perder a batalha, já não tinha mais forças para lutar. E quando ele estava para perder... o capitão segura com a mão a lâmina da espada do seu adversário e a empurra para baixo, cortando a sua palma. E naquele segundo em que o cavaleiro estava sem nenhuma defesa, cravou a ponta do seu sabre no abdômen do adversário.

O cavaleiro cuspiu sangue, mas em maior quantidade. Se olharam mais uma vez. O capitão pirata perdeu o equilíbrio e caiu no mar, deixando o adversário vivo e sangrando no chão. Sim, ele sobreviveria.

No instante seguinte, o capitão já estava na Decerto. Como ele fez para nadar e subir até o navio nas condições em que se encontrava, é um mistério. Mas o que se seguiu se seguiu em silêncio. Ainda molhado, ele se pôs na frente do Timão da Decerto e com o sabre o partiu em três ou quatro pedaços. Tirou a âncora que prendia Decerto naquele lugar, deixando-a livre. Então ele cravou o sabre no chão de madeira da sua embarcação e sentou-se apoiando as costas no Sabre. Só então, observando as nuvens dos céus que balançavam como o mar, ele percebeu que não havia largado o sabre um segundo sequer.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Parte Onze: Combate LADO A

O capitão deu uma parada para o resto do mundo.

Quem o visse mal poderia imaginar que era um pirata. Estava sentado, um copo de rum intocado a sua frente, roupas banais, nada de tapa-olho ou papagaio no ombro, ou mesmo perna de pau. Porque as coisas que são não precisam parecer. Ou precisam? A lei hoje em dia não é a imagem? Digo, hoje em dia não é muito mais importante a imagem? Se você não pode ter, se você não pode ter, que pelo menos possa parecer, não concordam? Bahhh, que se dane. Naquele momento ele era e tinha, mas não se importava se parecia ou não. Que se danem os outros, o que nós temos é mais importante.

Rilke observava o balcão. O que se passava dentro da taberna era um mistério. Então, eis que alguém entra na taberna, se dirige até o balcão fazendo o barulho que madeira antiga faz quando é pisada, e se senta do lado do capitão.

- Há quanto tempo, estranho.
- Há quanto tempo, estranho.
- E as suas feridas?
- Doem pouco.
- Sangram?
- Quando eu deixo.
- E por que deixa?
- Tem resposta essa pergunta? Ou melhor: se quiser a resposta, pergunte para as minhas víceras, pois elas sabem mais sobre as minhas feridas do que eu.

O homem então abaixou um pouco a cabeça e falou para a barriga do Rilke:
- E por que vocês deixam sangrar as feridas de quatro mêses atrás?

- Dá um tempo, Raymond.


- O que você vai fazer da vida?
- Não sei. O conde deve estar atrás de mim, e eu tenho curiosidade de ajudar, por assim dizer, um marujo. E ainda existe ele...

Raymond se levantou. Minha hora chegou, disse ele com os olhos. E Rilke se despediu com os olhos também, pois as coisas mais sinceras que ele tinha, só sabia dizer com os olhos.
- Não vai beber o rum?
- Eu não bebo.
Raymond pegou o copo de rum e bebeu todo o seu conteúdo de uma única vez, em um único movimento.
- Nem eu.

No mesmo instante em que saiu, por aquelas portas estilo filme de faroeste, uma outra pessoa chegou.
Estava com alguma armadura metálica leve. Era ouvível o som dos metais batendo, mas isso não atrapalhava em nada o seu andar. Isto Rilke deduziu com o ouvido.

- Rilke.
- O que quer?
- Um combate.

O capitão se virou e percebeu o cavaleiro quem o estava desafiando. O observou o rosto, cuspiou no chão. Percebeu que ele estava com uma armadura leve e que carregava na cintura uma espada.

Será que o conde enviou o cavaleiro para trazer o capitão pirata aos seus domínios?

- Um combate?

O cavaleiro sacou a sua espada, e o capitão, por reflexo, pegou um copo de rum e atirou contra o rosto do cavaleiro que, por reflexo, atirou o copo longe com o punho. Quando se deu conta, Rilke estava correndo com uma garrafa de Rum na mão, e chutou uma cadeira contra o cavaleiro, que a partiu em dois com a espada. Começaram os dois a subir as escadas. Rilke chegou no topo primeiro e atirou uma mesinha contra o seu perseguidor ao passo que tirava o seu pequeno fuzíl da cintura. Pretendia atirar no pé do cavaleiro, mas não pôde mirar porque ele estava subindo as escadas correndo e usando a mesa como escudo. Por pouco o capitão não foi pego por aquela investida, e, na cambalhota que deu, quase perdeu a garrafa de rum que um pouco rolou no não mas foi apanhada antes de cair do segundo andar. Correu ainda um pouco e se esqueirou por debaixo de uma mesa. Dizem que o cavaleiro partiu aquela mesa ao meio com um único golpe da sua espada.
Quando o cavaleiro deu por si, estava a uma média distância do pirata, que já não mais corria. Tinha em ambas as mãos garrafas de rum, que atirou contra o cavaleiro que apenas de defendeu. Os cacos de vidro não lhe causavam dano algum - tratou de proteger o rosto com o braço - porém, ficou melado de rum. Quando observou de novo o pirata, ele percebeu o que seu inimigo atinou. Rilke segurava uma lamparina acesa na mão, com um pouco de querozene ainda, e atirou-a contra o cavaleiro, que se esquivou do ataque. O chão começou a queimar por causa do rum caído, assim como as pernas do cavaleiro. O fogo não se alastrou pelo resto do corpo dele, e Rilke mostrou decepção no rosto.

O Cavaleiro puxou com mais força a espada, destruíndo uma cortina. No final do corredor, Rilke estava de pé em cima da mesa, segurando uma vassoura na posição de defesa, quando se luta com lanças. O Cavaleiro investiu no ataque. Rilke pensou consigo, que loucura estou fazendo? O cabo de vassoura foi partido ao meio na defesa, embora o pirata não tivesse sido partido. O que ele fez foi jogar a cabeça do cavaleiro contra a parede com ambas as mãos. Então o pirata pulou com toda força no candelabro da taverna, que rombeu e caiu com o capitão. A mesa em que ele caiu não quebrou. Na verdade, o pirata imaginou que suas costelas haviam quebrado no lugar da mesa, e ficou um instante lá convivendo com a própria dor. Engraçado como nossos momentos de dor parecem momentos à parte da história em que vivemos, não é? Engraçado, que nesses segundos em que uma dor se instala em nossos corpos, o mundo para, a dor surge, ocupa todo o nosso ser, e o intelecto fica em segundo plano. Embora, claro, existam as suas exeções. Infelizmente, o caso do capitão pirata da Decerto não seja uma dessas exeções. Enquanto ele estava ocupado com a sua dor, o cavaleiro se ergueu, o observou do segundo andar, desceu lentamente as escadas, e subiu a mesa usando uma cadeira como degrau.

O Capitão Rilke se levantou, pôs-se em uma posição mais digna apesar da dor, e puxou um pouco o cabo da sua espada enquanto observava o ambiente ao redor.
- Tudo bem, você terá o seu combate.

Isso ele disse sem olhar o cavaleiro que o desafiava. Havia algo, algo no seu rosto que o incomodava.

- Antes de iniciarmos, posso ao menos saber qual o seu nome?

E ao dizer essas palavras, ele olhou profundamente o nome do seu desafiante de origem desconhecida.

O cavaleiro entrou em posição de combate, apontando a espada contra o capitão pirata.
- O meu nome é Rilke.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Parte Dez: 57 horas sem dormir LADO B

Quando acordou, percebeu que o pirata mais calado dormia. Desta vez, de verdade pois ele passou bastante tempo sem acordar ou sem se mover.

Naquela tarde os novos amigos o prenderam por um tempo. É engraçado encontrar pessoas novas hospitaleiras enquanto algumas velhas conhecidas não são muito hospitaleiras. Na verdade, algumas vezes é mais fácil ser hospitaleiro com os novos conhecidos e nem um pouco interessado pelos antigos. Se isso é ruim eu não sei. Só sei que isso pode até servir para provar como o homem foi feito para o novo. Será mesmo?

O capitão Rilke voltou para a Decerto já se preparando para um combate. Não sabia se realmente iria, pois talvez em pouco tempo ele iria se sentir de novo cançado. Naquele momento não se sentia assim.

O local?

Encontro.

Vestiu-se como se vestem os nobres. Tanto que levou consigo um dos seus Sabres na cintura. Tinha ele cinco. Olhou a lâmina prateada reluzente e desejou que ela nunca enferrujasse. Não por sua beleza, mas pelo seu valor. Além disso, sabres são exelentes armas, superiores as espadas, por serem mais bem trabalhadas, e também por isso custam mais caro.

Estava ele lá há mais de 24 horas sem dormir e se aproximando das 36. Antes mesmo de chegar, o encontrou: o homem da montanha. Aquela pessoa de quem se lembrava em momentos que não o lembrava, como quando você está palitando os dentes ou quando toca violão: você nunca tocou violão com ela, a música não a lembra, você nunca viveu nada que tivesse palitos de dente com essa pessoa mas.... lá está a lembrança, e por causa disso, achamos que essas coisas nos lembram ela.

(Na verdade ela se lembra a si mesma no nada.)

Música, dança e rum. Algumas pessoas se beijando. Rilke fez questão de ficar de costas para o homem da montanha que uma vez o ignorou. Queria tê-lo apenas as costas. É engraçada a força, a coragem e a sabedoria. Mas sabe, talvez ele não tenha feito isso por ordem da sabedoria... muito provavelmente fez isso por ter dado ouvidos às próprias víceras.

E foi então que (grande surpresa) que o homem da montanha veio falar com o Capitão Rilke.
- Oláááá... o que você faz aqui?
- É que hoje é o ultimo dia e eu resolvi vim aqui.
- O mundo vai acabar? Ultimo dia?
- Depois de amanhã embarcarei em uma viagem.
- E você veio sozinho?
- Sim, eu vim sozinho.
- Ninguém?
- Ninguém.
- ...

E então, devido ao silêncio e falta de interesse do capitão Rilke, o homem da montanha saiu dalí, e o capitão pirata pouco se importou e quase não lamentou, mas por muito pouco.
- Morreram nossos diálogos.

A menos que... mais uma chance. Uma ultima chance, pensou consigo o capitão. Se ele tiver de novo a audácia... teria? O capitão pensou consigo que o homem não tinha deixado a montanha, sendo assim, haviam ainda os muros.

- Quem colocou os muros não fui eu mesmo? Ou as barreiras era que o impediam de se aproximar de verdade? Quer dizer, ele nada mencionou sobre o que antes ocorreu. Teve a audácia de vir me cumprimentar, mas o fez como se estivesse tudo bem. É um covarde.

- Sim, as pessoas não se encontram, elas se conectam. Elas se esbarram e se contentam com o contato do esbarro, como se nada mais houvesse.

E quis o capitão encontrar alguma coisa, pois naquele lugar ele nada encontrou. O que aconteceu é que por algum tempo ele se conectou com alguém, e esse alguém, esse homem da montanha, cheio de vistas dos mais incriveis lugares, e cercado de obstáculos, paredes e gaviões; esse alguém apenas quis um esbarrão comôdo.

- Um grande covarde.

Naquela noite ainda ele quise perder. Começou a olhar ao redor. Depois de beber alguns goles de veneno, percebeu o que estava fazendo. Mas não tinha como voltar atrás. Cousa. Sentou-se, esperando reduzir os efeitos do veneno, mas o pior era o gosto na boca que não passava, o fazendo lembrar o momento de covardia.

Sacou o sabre e observou a sua lâmina prateada. Valia tanto assim que não poderia vender? Valia a pena passar problemas por tê-lo ao invés de trocar seus sabres por outras coisas? Pouco importava o seu poder frente as espadas e outras armas, assim como o seu valor, a ponto de um sabre poder comprar doze Decertos. Tinha cinco sabres. Percebeu a coencidência. Sorriu.

Então o jovem pirata percebeu que alguém vinha em sua direção. Era ele! O homem da montanha! Olhou para a esquerda, como que para se fingir de sonço, mas não conseguiu se conter e dirigiu seu olhar para o do homem que desviou-se para a esquerda como se o capitão não existisse. Ele ficou boquiaberto por um segundo. Olhou para a esquerda e viu o homem da montanha se arrumando frente a um espelho. Se odiou profundamente por ter olhado para a esquerda, quis prometer para si mesmo que nunca mais o faria. O homem da montanha, terminando de se arrumar, se dirigiu para a direção do pirata Rilke, mas, antes do primeiro passo, o corpo do capitão teve uma reação quase que instantania: se levantou e caminhou em direção ao homem da montanha. Passaram um pelo outro. Rilke não o olhou. Rilke não olhou para trás. Não desta vez. Nunca mais para este... e viu o homem da montanha se aproximando. Olhou para a frente, um ponto qualquer, e viu o homem passar por esse ponto sem nem olhar para o lado, sem ne olhar para o capitão.

- E não havia outro caminho para ir se encontrar com os seus amigos, que não fosse passando por mim, sua peste!

Era como se uma guerra estivesse declarada.

Ele voltou para Decerto. Tirou outro cochilo e depois acordou. Não podia dormir, pois precisava regular o seu relógio biológico para a viagem que iria fazer. Era meio dia quando ele acordou e ele precisava dormir apenas dez ou nove da noite.

De noite, quando deu 56 o total de horas que ele passou acordado, em uma conversa que durou uma hora, ele ouviu dizer que a saudade que sentia era recíproca. Então o capitão Rilke se recolheu e tentou dormir. Em vão. Alguma coisa dentro daquele corpo cançado se movia e lhe impedia de fechar os olhos, de não se mover e se agitar.

E apesar de tudo, na verdade mesmo, a quantidade horas que ele passou acordado ultrapassou sessenta.

domingo, 3 de agosto de 2008

Parte Nove: 57 horas sem dormir LADO A

O que se segue é um resumo do que aconteceu naquela quarto dia.


- Esses serão os nossos acompanhantes esta noite.

Com essa frase o peão, elevado ao plano de também ser um pirata, apresentou os outros três piratas para o Capitão Rilke.

Também no quarto dia, Rilke acabou não indo para Encontro. Descobriu graças a ajuda do nobre vizinho, que o combate que ele teria de enfrentar não aconteceria mais.

De qualquer forma, quando se está em um lugar e se tem um papel, pouco afeta o papel que você teria em outro lugar. E isso era desesperador. Ainda assim, havia alguma esperança. Tinha de haver. E ele a queria encontrar.

Acabaram indo os cinco para um lugar com boa música e bons cortejos. Foram eles para o Cubo, embora Rilke achasse que estivesse na verdade na Mansão.

- E você já estava antes de algum lugar antes de vir pra cá?
- Estava em um lugar chamado AMC.

Seus pés doíam bastante. Quem não eram bastantes eram os olhares que o Capitão não viu. A pergunta mesmo era a dúvida que veio depois, se por algum acaso veio algum lugar. Porque ele não pensou em reparar se havia tal coisa dirigida para ele. Rilke não queria olhares, mas lhe faria bem saber que ouve algum. Como não viu nenhum, então ele teve sim olhares. E a única maneira de não terem havido esses olhares seria os não vendo - mas o capitão não viu o não ver, então, era como se eles tivessem existido.

Depois, bem depois daquele dia, ele pensou o que aqueles olhares viam. Ver é algo tão forte, ainda mais quando se consegue ver mais do que aquilo que os olhos nos mostram. O que Rilke tentava ver? Pessoas.

- E o que é isso na sua cintura.
- Uma espada.

Mentiu. Na verdade ele carregava um sabre, mas normalmente piratas não possuem sabres, e sim espadas. Sabres eram itens de grande valor, e igual força.

- Não acredito.
- Não acredite.

Por um momento passou a conversar com o mais calado dos quatro, enquanto os outros dois dançavam entre si apenas para esbanjar e o antigo peão já tinha se ido embora. Um homem surgiu e sem nada dizer ofereceu uma bebida para o calado, que deu um gole. Então, depois, estendeu a mão para Rilke e o cumprimentou. Então foi embora. Nenhuma palavra.

Naquela noite ele ainda teve que enfrentar a si mesmo. Foi assim: O pirata capitão da Deo (um outro capitão!) o desafiou para mostrar as suas habilidades.

Lutar contra si mesmo é lutar contra os seus Desejos e tentar seguir a sua vontade. Foi assim que Rilke foi capaz de vencer o Dragão Luto.

- Isso que você tem na cintura não é uma espada.
- Como sabe se eu não tirei da bainha?
- Alguma vez você já foi nobre?
- Nunca.
- E como você tem esse sabre?
- E se eu lhe disser que eu tenho mais de um?
- Mais de um sabre?
- Espadas.

De ultima hora, o capitão foi dormir na casa do capitão da Deo, quem conhecera apenas há algumas cinco horas.

Disse o mais calado dos três, deitado do lado do capitão:
- Você está com sono?

O capitão disse a verdade após um segundo para comprovar a verdade.
- Não.

Acontecia de algumas vezes o capitão quando ficava acordade até tarde perder o sono que antes tinha. Então passava o dia sem mostrar nenhum sinal da cansaço, e de noite o sono só chegava perto da meia noite. Eram dias em que dormir parecia não ser necessário.

Então, já era cinco e meia da manhã e os dois começaram a conversar.

- E você jovem Rilke, porque não faz a barba?
- Promessa.
- Para conseguir o quê?
- Não sei. Antes de decidir que era promessa, foi preguiça. Então, quando você me perguntou, decidi que não corto por promessa.
- E vai ficar sem cortar até quando?
- Até ontem.
- Então você conseguiu.
- Consegui.
- O quê?
- Depois eu peço.
- Por que depois?
- Porque aquilo que eu mais quero nesse momento é impossível agora. Nem que eu prometesse matar o Dragão mais temido e cumprisse a promessa, ocorreria.

O Dragão que Rilke mencionava não era Luto. Havia um outro Dragão muito mais temido do que Luto.

Imaginou o Capitão Rilke que aquilo tudo foi uma armação do Capitão da Deo.

Tentou dormir o mais calado, mas na verdade não dormia. Rilke sabia disso porque ele se mexia muito e acordava várias vezes. Nesses intervalos eles conversavam um pouco. Uma das conversas foi assim:

- E essa espada diferente?
- Não é uma espada. É um sabre.
- Parece ter grande valor.
- Um grande valor.
- Imagino que você tenha matado um nobre para consegui-la.
- Um príncipe

Então o mais calado dormiu. Eram mais ou menos nove da manhã quando Rilke pensou consigo "proxima vez que ele acordar, eu o beijo". Então, mais ou menos nove da manhã, o Capitão Rilke se virou e acidentalmente cochilou.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Parte Oito: Quatro Dias

Já se passaram quatro dias.

Hoje haveria, segundo o informante, uma batalha. Rilke já não sabia mais se ela ocorreria no mesmo lugar, devido a uma informação removida do peão. É triste de dizer, mas o pirata possui também alguns poucos peões, pessoas que ele usa. Isso o faz mal?

Estava olhando para o céu enquanto navegava a Decerto. De repente saiu dos seus lábios a pergunta "O que é o movimento?". Piscou. Fantasiou por um instante que se encontrava com o homem da montanha. Imaginou-se beijando-lhe a fronte, embora quisesse na verdade se imaginar cortando-lhe a garganta. Não conseguiu.

Também não havia se encontrado com o Conde. Era uma armadilha. Amanhã o Conde iria para a Ilha do Dragão marinho. Haveria uma chance, mas acontece que Rilke não queria também tornar-se um conde.

Existem três lugares em questão: Encontro, A Mansão e o Palco.

Encontro era o campo de batalha de hoje. Não havia certeza se haveria mesmo a tal batalha hoje, por isso Rilke imaginava se ele iria colocar a vela que rumava para Encontro em Decerto. Rilke também encantou-se um pouco com o nome. Encontro. Quem vai para lá, encontra algo? Pensou que sim, mas... para onde nós vamos que não encontramos nada? Existe tal lugar?

Talvez os encontros que ocorrem em Encontro sejam diferentes. O que Rilke encontraria lá? Seria algo bom ou algo ruim? O pirata só queria encontrar uma única coisa no mundo.

Olhou para trás. O Dragão marinho ainda o seguia.

(E a sua indiferença era apenas para esconder o enorme amor que brotava)
(Mas lhe disseram uma vez que a indiferença era muito pior do que a raiva; por isso ele não queria ser totalmente indiferente. Medo de perder mais ainda o que já foi perdido)

E fica a pergunta.... O que irei encontrar hoje?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Parte Sete: Quando o sol nascer

Quem era aquele nobre? Estava junto do capitão Rilke um jovem menino choroso e inseguro. Era um nobre realmente? Não havia como saber ao certo. Aquele jovem estava na deriva ao mar quando foi encontrado pelo capitão Rilke. Estava no mesmo mar em que o capitão navegava, porém estava a deriva. E tem mais, aquele jovem sem nome se dizia um monstro.

Gargalhadas! Um monstro?
- Um dia você vai descobrir o que pe realmente um monstro.
- E você por algum acaso já viu um monstro?

Ficou mudo.

- Uma vez, enfrentei um Dragão.

E lhe contou sobre o Dragão que enfrentara. E o jovem encontrado no mar pensou que Rilke tinha matado o Dragão.

- Esse Dragão não morre. Ele só morrerá quando não existir homem algum mais na terra ou no mar.

E quem mais havia encontrado na vida? Bem, estava para se encontrar com um conde.

- Um conde é mais do que um príncipe.
- E menos do que um rei.

- Com quem você falou? - perguntou o jovem, mas Rilke respondeu apenas com silêncio.

Condes vivem no luxo e tem influência. Andam com cavaleiros e com eles banqueteiam, mas a verdade é que precisam dos serviços dos bandidos. Um pirata é um bandido. Além disso, condes gostam de jogos, jogos de sedução e de controle.

Rilke acreditava na palavra do Conde? Não. Por que? Porque estava falando com um conde. Que mal o pobre coitado fez para merecer esta desconfiança? Possuir poder. Mas claro que não era só isso, era também esse jeito que havia de naturalmente apressar as coisas, de falar com segurança as palavras que todos gostam de ouvir. Era isso que fazia Rilke descrer no conde.

Amanhã, quando o sol estiver observando do alto o mundo, eles estarão cara-a-cara.

- Não é perigoso?
- Levo os meus sabres. Além disso, piratas que não são pagos pelos seus serviços possuem certos direitos que nem os honrados cavaleiros podem contestar.

Mas a verdade é que piratas não poderiam ter condes como companheiros. Talvez apenas piratas. Princípes e aristocratas nunca. Ele baixou a cabeça. Nunca mesmo? Era preferível morrer assim.

- Um dia, ou o Dragão me devora ou ele me torna mais forte.
- Como?
Silêncio.

O sol nasceu.
- Ontem eu me encontrei com um professor.
- Aprendeu algo?
- Que nem sempre as coisas são como nós as esperamos. E que isso não significa que elas tenham que ser melhores ou piores. Apenas diferentes.

Era um professor que deveria ter sido morto?
Enquanto rumava para o assassinato que não aconteceu, ele se lembrou do homem da montanha. Foi uma lembrança boa, mas que ele tinha que esquecer. Se sentiu então mal por ter se lembrado. Se sentiu, na verdade, um pouco covarde. Avistou o alvo e se esqueceu.

Mas a educação, a educação, a educação... não poderia matar alguém assim. E nem salvá-lo. Tem coisas que são assim no mundo. Não se mata nem se salva.

"Um dia haverá uma grande guerra em que todos seremos soldados. É o dia em que a comida estará esgotada, assim como a água. Nesse dia, o lixo tomará conta do mundo, não haverá lugar sem doença. Nesse dia, os homens serão seus próprios inimigos, e a natureza provará que nada pode contra ela. Nesse dia, homens caçarão homens para sobreviver."

E aquilo mais pareceu uma profecia do que fatos científicos. (Teria coragem o capitão de provar da carne humana?) (Hoje ele viu pessoas comprando e consumindo, produzindo lixo e pensou consigo como é fácil destruir o próprio futuro - ele próprio não destruia?)

- Você. Já pensou em ser um pirata?
- Um dia já fui sim. Hoje sou um monstro.
- Não acredito.

De fato, não conseguia de forma alguma acreditar.
Viu hoje também um barco com um semblante real. Sabia onde deveria estar daqui a quatro dias; descobriu por meio dos vícios em luxos e da lealdade conquistada de alguém.

-Monstros precisam ser derrotados. É engraçado dizer, mas eles nascem para morrer - como com os seres humanos.
- Eu costumava ser um pirata a algum tempo. Não tão nobre como você, mas mesmo assim um pirata.
- Honrado em receber a vaga. Aceitarei, mas antes lhe aviso: ainda não sou um pirata. Sou um marujo, almejando ser algum da sua tripulação. Que tal?
- Não há vagas na Decerto para marujos. O levarei para a ilha dos corações, onde os piratas recebem suas embarcações e conhecem os nomes dos seus sabres.

E o conde? E o navio? E a batalha de quatro dias? E o destino do professor aristocrata?

O Dragão marinho espreitava Decerto, mas não podia se aproximar. A ordem para se aproximar era uma lágrima. Lágrimas são portas abertas para os combates, e combates são portas abertas para o futuro.

- Digo isso porque cabe a todo pirata ser capitão da própria embarcação.

Quando o sol nascer, haverá um sabre, uma porta e um conde esperando.
O destino é escrito. Sempre. Quando o sol nascer.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

História Paralela: Linguagem

Estão duas pessoa em uma acampamento, discutindo.

- Sabe que coisa engraçada eu pensei agora?
- O quê?
- Como nós, em nenhum instante, tivemos algum desentendimento.
- Como assim?
- Bem, faz três dias que nós estamos acampados aqui desde o acidente de trem.
- Sim, e?
- E existem pessoas de diferentes nacionalidades aqui. Porém, todos nós falamos o mesmo idioma. E não houve nenhuma discussão para definir qual lingua deveria ser falada aqui. O que aconteceu é que todos começaram a falar o mesmo idioma naturalmente.
- É mesmo. Que curioso.
- E mais estranho ainda, e muito curioso, é que a lingua que todos estamos falando não é inglês.
- É mesmo. Nossa, por que será que isto aconteceu?
- Me diga você, por que você acabou por escolher este idioma?
- Como assim por quê? É a minha lingua materna!
- É mesmo? Nem parece.
- Como não parece?
- É que eu pensei que você era Canadense.
- Como assim? Eu sou.
- E em que parte do Canadá falam francês?
- Frânces? Hahaha. Estou falando espanhol.
- Como espanhol? Isso é francês. Perdeu a cabeça?
- Francês? Quem deve ter perdido a cabeça é você.

Ficaram um minuto sem entender.

- Me diga uma palavra em espanhol.
- (Dizendo bem lentamente) Ne...e...ve. Neve.
- Francês.
- E desde quando neve é uma palavra do francês?
- Desde sempre!
- Não entendo.
- Muito menos eu. Estou ouvindo o bom e claro francês sair da sua boca.
- Eu juro por tudo que estou falando espanhol. Estou falando espanhol. Acredite em mim homem!
- Mas como eu posso acreditar em você, se até o seu pedido de crença na sua palavra é pronunciada em francês?

Uma outra pessoa interrompe a conversa:
- Calem a boca os dois! Vocês estão falando português!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Parte Seis: Alguém no mundo

- Está satisfeito Rilke?
- Não sei.
- Não tem nada a dizer?
- Juro que queria ter alguma coisa para dizer, mas não tenho.
- Continue.
- Tanto que quando falo alguma coisa, é com a voz baixa e sem nenhuma confiança, pois o que eu disse foi apenas para dizer alguma coisa.


(breve silêncio)

- O que aconteceu com você?
- Nada.
- Eu sei que os teus nadas na verdade são tudo.
- Fico feliz que saiba.
- Foi o princípe, não foi? Ele fez aquilo que nós esperavamos que ele fizesse, não foi?
- Não, ele fez bem menos do que eu imaginei que faria, mas ainda é o bastante para mim.

(breve silêncio)

- Por que você está chorando?
- Para não me arrepender depois.

(silêncio)

- Sabe Raymond, hoje eu afoguei o meu coração mesmo quando ele precisava urgentemente respirar. Agora ele está sem fôlego.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Parte Cinco: As cordas de um violão ou "porque eu sei que vou morrer"

E assim Decerto ficou vagando no mar, quase sem rumo. E o seu bravo capitão perdido enquanto olhava para as nuvens com a bussula do lado, mas sem nela prestar atenção. Quem visse de longe não poderia imaginar que o pirata estava navegando na verdade. Decerto rumava para o Bosque, onde Rilke se encontraria com o Bardo.

Bardos são pessoas encarregadas de transmitir histórias, lendas e poemas de forma oral, cantando e tocando instrumentos. Eram mais do que músicos simplesmente, mas ainde eram músicos, e provavelmente ele havia de saber afinar um violão. Isso porque Rilke tinha um violão, mas não sabia afiná-lo. Mal sabia como tocar nele - apenas algumas músicas, algumas expetaculares, mas todas simples de se tocar. Isso porque ele gostava de tocar, mas seu talento mesmo eram os sabres e o leme da Decerto.

Mas tal encontro não era só a afinação das cordas, mas também tentação. Será? Não havia nada muito explícito, mas havia algo no ar. E o capitão estava precisando desses prazeres ultimamente... e o veneno? Veneno aquele que não mataria, mas traria uma perda e uma mancha apenas. Direi o porquê.

Aquele Bardo já havia feito parte da corte de um princípe de um reino vizinho ao reino em que o Capitão havia se embrenhado. O próprio conhecia o outro princípe e tinha uma estima por ele. Mas acontece que Bardos são seres errantes, está em seu sangue. Eles não se fixam direito e nem se prendem a um reino, almejando o "para sempre".

Rilke estava indefeso. Não havia levado nenhum dos seus sabres. Apenas o violão desafinado, que logo foi afinado pelo Bardo, ainda que com alguma demora. E aconteceu que os dois conversaram um pouco e Rilke não deu espaço para a tentação do veneno. Eu digo tentação porque os verdadeiros venenos não são ruins de gosto, mas muito, muito saborosos.

Naquela noite ele estava à mercê daquele Bardo. O capitão desejava o veneno. Mas desejos são desejos, e os fortes lutam contra os desejos que julgam desnecessários ou prejudiciais. Além disso, havia alguma outra coisa...

Todo dia o capitão tentava colocar na cabeça que ele era mortal. Ele dizia para si mesmo "Hoje eu posso morrer na hora em que menos esperar". E se você acha que isso o fazia viver pior, na verdade ele tinha mais forças para viver por causa disso. E principalmente, ele tirava daí forças para viver melhor.

(pois imaginava que se fosse morrer naquele instante em que não esperava, queria morrer sem que a ultima coisa que tivesse feito fosse magoar alguém, por mais que fosse alguém de um reino distante, que havia se mostrado um pouco apático as suas cartas)

Aquela noite foi mais um vitória. Porém, o capitão ficou com algo lhe inquietando. Pretendia se perder para depois se encontrar, mas... e se ele morresse antes de se encontrar?

domingo, 20 de julho de 2008

Parte Quatro: Dragão Marinho

A vela não chegou a ser aberta, de forma que Decerto parou no mar, esperando pelo seu Destino. Espera era uma palavra importante para o Capitão Rilke, pois ela significava mais do que esperar.

Ele havia se comunidado com o membro da familia real, e dessa comunicação virtual ficou sabendo que não seria possível ser recebido. Teve, por um instante, vontade abrupta de invadir o castelo, ir mesmo sem ser chamado. Estava no seu sangue de pirata. Porém, decidiu mesmo que era bom parar e esperar. Espera.

Teve vontade de ir até a Ilha do Dragão Marinho, nomeada assim por causa de um político que se auto-entitulava Dragão marinho. Mas na verdade as pessoas não sabiam que era por causa de um político. Ninguém se importava direito. O importante eram os prazeres que o lugar oferecia - e Rilke estava precisando de uns prazeres ultimamente. Tinha decidido que iria se perder - só por um tempo, no vasto oceâno e que depois iria se encontrar.

Mas Dragões Marinhos existem de verdade. Rilke os enfrentava, algumas vezes sem armas ou sem saber o que fazer. Ainda assim, era teimoso em enfrentá-los e sempre saia vivo dessas batalhas. Porém...

Havia um Dragão Marinho que Rilke enfrentava ainda. O pior e mais cruel de todos. Dizem que ele sempre irá existir enquanto houverem corações humanos batendo forte e pulsando. E esse Dragão Marinho era um dos mais cruéis e mais dificeis de se enfrentar.

E Rilke estava sendo perseguido por esse Dragão marinho. Na verdade, já o havia derrotado uma vez, mas não foi suficiente para o Dragão Marinho. Por algum motivo ele ainda estava atrás do capitão Rilke, ainda estava atrás da Decerto. Talvez, muito talvez, seja por causa de uma escolha que Rilke fez na vida. Por isso, seu coração era por demais precioso. Talvez.

Escolhas. Eis porque o combate era árduo. Porque a grande vida é guiada pelos poderes dos nossos desejos e das nossas vontades. O medo é um grande desejo enquanto a coragem é uma grande vontade. O medo que nos impede de olhar nos olhos de um besta dos mares poderia ser abatido pela esperança. Seus olhos eram vermelhos. E era necessário olhar diretamente nos seus olhos para derrotá-lo. Aqueles que conseguem olhar nos seus olhos saem do combate mais fortes, mas os que não conseguem se perdem por toda a vida. Continuam a viver mortos. Eis porque era perigoso: matava sem tirar a vida.

O nome do Dragão Marinho era Luto.

sábado, 19 de julho de 2008

História Paralela: Sonho

De quinta para sexta eu sonhei. Pode parecer pouco, mas não é. Eu nunca sonho, nunca mesmo. Quando acordo, a ultima coisa que me lembro foi do momento antes de dormir (às vezes nem isso) e só. Entre este espaço fica um vazio.

Quando isso não acontece - ou seja, quando eu acordo e lembro que sonhei - as primeiras palavras que me vêem a mente são "What the Fuck!!!". Isso porque os meus sonhos beiram totalmente o surrealismo. Chegam ao No Sense! Por isso, os que já me conhecem, quando me escutam dizer 'Hoje eu sonhei' dizem logo Vixeee.

Vou contar: eu era um personagem de video-game. Era um jogo de tiro em primeira pessoa, onde eu (o personagem) estava dentro de um castelo com uma metralhadora e tinha uma pequena dificuldade em mirar na cabeça dos inimigos. E isso aconteceu naturalmente até que ELES apareceram.

"Eu" subi as escadas e me deparei com um grupo. Haviam, acho eu que umas cinco pessoas. Elas se auto-entitulavam como sendo os mais fortes e dificeis do jogo. Eu decarreguei a minha metralhadora neles, agora com uma pontaria impecável (pra você ver o que eu não faço sobre pressão) apenas para descobrir que eles eram imortais! E havia uma criança entre eles também. Uma menina.

Então, "Eu" fiz aquilo que era mais coerente na hora: comecei a correr pra caralho fugindo deles. Nessa hora a visão do jogo mudou para terceira pessoa e eu pude descobrir quem eu era: eu era o Will Smith! Embora, na verdade, mais parecesse o Jack Chan por causa das acrobacias que fazia e da forma como usava os objetos do cenário para despistar os perseguidores imortais que, inclusive, não usavam armas de fogo. Eles só lutavam no mano-a-mano (se eu fosse imortal, até eu ia só com os punhos!).

Depois de um tempo, consegui (engraçado usar o verbo na primeira pessoa, uma vez que eu era o Will Smith), eu consegui despitar todos eles menos uma mulher negra e MUITO bonita. pena que ela só queria me decaptar.

Então, no meio da correria eu encontrei um lugar seguro: uma sala de aula com uma professora velhinha e cheia de estudantes dentro. As paredes dessa sala de aula - menos a parede da Lousa - eram de vidro. Tentei bater na parede pedindo socorro e descobri que a parede era a prova de som. Peguei uma mesa e tentei bater na parede apenas para descobrir que era blindada. Acho que a professora percebeu e tentou me dar um carão, não lembro direito. Mas lembro que a mulher conseguiu me alcançar e, por mais que a entrada da sala de aula estivesse lá perto, seria impossível de eu conseguir entrar. Foi então que por obra do destino eu consegui descobrir o ponto fraco dela: ela era uma pessoa escorregável. Como assim? Pois bem, se houve alguma coisa perto dela e a fizesse escorregar, a chance dela escorregar naquilo era de 100%. Usei dessa vantagem e consegui entrar na sala de aula. Por algum motivo, eu estava 100% seguro lá dentro.

Depois disso anoiteceu e eu estava do lado de fora da academia (o castelo era na verdade uma academia) e eu estava dormindo. Foi então que surgiu o terrível Chefe Final e mais malvado do universo que era um... palhaço!

Ele me pegou e levou para atrás da academia e me amarrou em um poste cheio de luzes pisca-pisca. Foi então que ele percebeu o estranho cenário com um rio de chocolate e casa de biscoito. Então ele viu que alguém se aproximava, ficou com muito medo e se escondeu, me deixando alí. Meu Deus quem era? Eram os três lobinhos. O palhaço então percebeu que ele tinha saído sem querer do jogo e entrado na história dos Três lobinhos e o Porco Mau. E foi então que eu acordei e pensei comigo mesmo "What The Fuck!".

E foi isso que eu sonhei, sem pôr nada a mais.

Curiosamente, de ontem pra hoje eu também tive um sonho, tão louco quanto. Mas esse eu acho que vou deixar pra alguma outra oportunidade. Só pra comentar, esse meu outro sonho louco envolve Jogos Mortais, Ginástica Olímpica, Garota Interrompida e Querida Estiquei o Bêbe com uma referência ainda a um filme de terror chamado Reanimator, de zumbis. Né pouco não.

Parte Três: Sangue inocente derramado

Ele sacou a sua arma. O que se passava dentro de si era um mistério até para si mesmo. Sabia apenas que não estava, de forma alguma, triste; da mesma forma que não estava alegre. O que ele havia encontrado ao subir a montanha foi nada mais do que - para ele - um covarde.

Covarde porquê? Havia dado essa denominação mas não encontrava um argumento convicente. Disse por instinto, porém, de forma alguma achava que dissera por equívoco. O que ele disse foi uma grande verdade. Talvez maior covardia no mundo seja essa de ignorar o que os outros dizem. Não que as pessoas tenham que sempre ouvir e acatar o que as outras falam. Ouvir sim, sempre que possível. Acatar... era uma outra história.

O seu orgulho de pirata o atacava. Porque aquilo que ele dizia era ignorado. Não completamente, mas só encontrava respostas, por assim dizer, aquilo que ele dizia e que era conveniente. O que não era conveniente, era descartado como se não tivesse sido dito. E ele encontrou então, talvez, a resposta para os seus instintos. Sim, o homem que fora ver era um covarde.

Rilke sacou a sua arma. Parou por um instante e então disparou. Matou três gaviões, assim, só por matar. (Dizem as histórias que ele matou esse gaviões com apenas uma bala).

E dalí do alto da montanha ele viu o mar. Uma vista deslumbrante e fenomenal. Era possível ver o mar até o ponto em que ele e o céu se tocavam. Era possível ver a sua imensidão, era possível ver como ele subia e descia. Era uma linda vista. Porém, era apenas uma vista. O capitão Rilke se lembrou do que era - embora nunca tenha se esquecido. Ele vivia no mar. Ele o percorria, o enfrentava, vivia nele e com ele, ao invés de apenas o observar.

Então ele se voltou para o lado onde os residentes da montanha estavam. E era apenas uma vista. A montanha era cheia de obstáculos e de barreiras. Diferente, muito diferente do mar, a imensidão sem barreiras. Ele observou os que viviam na montanha. Não soube se seria errado sentir pena deles. Resolveu que apenas iria descer a montanha e voltar para Decerto.

Mas agora ele tinha algo diferente a fazer. E olhou para a vela fechada. E pensou em fazer uma visita. Teve um pequeno receio - ninguém notou - e abriu a vela que o conduzia até o castelo, não importava que ventos fizessem.

Ele iria se encontrar novamente com ele. O princípe.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Parte Dois: Rilke

Aquele homem tinha um medo de fato: sua inimiga, a Alteridade.
Essa tal lhe atormentava desde que ele tomou consciência da sua existência - o fato é que os outros são os outros, e ele é ele. Você é você e eu sou eu. E havia uma infinita distânicia entre os dois. A distância dos heterogêneos. E ele nunca poderia saber de fato o que as outras pessoas pensam. Nunca realmente. Mas, se a Alteridade era o seu medo, a confiança era a sua coragem. E esse homem optava o caminho dificil, o da confiança.

Rilke usava um tapa-olho. Mas não para esconder um olho de vidro ou uma orbita vazia; o usava apenas porque era um pirata e lhe cabia usar um tapa-olho. O olho escolhido para ser coberto, também variava. Ora era o direito e ora era o esquerdo. E além de tapa-olho, esse pirata também possuia suas armas: seus sabres. E com esses sabres ele era capaz de travar as suas batalhas. Ele carregava vários consigo, e não se separava deles por pouca coisa. E mesmo quando os deixava de lado, ele ainda estava de alguma forma ligado a eles, ao passo que ninguém lhe poderia roubar os sabres e nunca iria ficar sem um à mão caso precisasse.

Neste momento o pirata estava para se decidir se subiria uma montanha rodeada de gaviões. Para quê? Só por hoje, queria estar lá. Quanto a amanhã e depois e depois ele não se importa de ter alguma opinião formada agora, alguma meta. E ele de forma alguma abandonaria Decerto. O mar era a sua vida, mas a Terra também lhe era estimada. E belo para ele era o encontro de dois mundos: aquele ponte onde o oceano e o continente se casaram, e nunca iriam se separar. Por isso, por hoje, ele queria subir a montanha e não correr o mar.

Muito longe, além de um oceano, existe um castelo. Um dia esse pirata se envolveu com um membro da familia real. Desse encontro morreu o antigo Rilke e nasceu um novo, que agora, mesmo distante milhas e milhas, ainda colhia os frutos da sua coragem. Por isso ele era uma pessoa drástica(?). Por isso ele queria a montanha - o grande oposto do mar - e mesmo que seus pés pesassem uma tonelada ele ainda iria escalá-la. Para quê? Tinha fome de vida. E tomava para si uma frase de outrem que o marcou: Prefiro viver a ser feliz. - não que felicidade não fizesse parte da vida, mas não era egoísta e não lhe recusava da vida os presentes, mesmo os tristes, apenos por algum pendimento. A vida é sevalgem. É espontânea. E ele era um pirata.

O seu destino é totalmente incerto. Não sei que rumo esse capitão tomará. Somos - os dois - um pouco inresponsáveis. Mas o que fazer? Somos pessoas sevalgens.

Que mais falta dizer sobre o pirata antes de ele começar sua luta contra a montanha? Lembrei de algo importante: Lembrei que ele não é um adulto, e nem ao menos uma criança. Ele prefere fazer pior, bem pior: é jovem.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Parte Um: Medo

Ele não estava conseguindo aprender por meio dos ouvidos, por isso, resolveu que aprenderia por meio dos olhos.

Chegando até o cais ele ancorou seu navio - Decerto - e saiu em direção ao campo de batalha. Lá ele conseguiria aprender. Lá estava tudo o que ele precisava ver. Como sabia? Ora, não havia aprendido por meio dos ouvidos, agia como se não tivesse aprendido - verdade - e portanto sabia do campo de batalha e da grande luta que o esperava.

Então ele começou a caminhar em direção ao lugar. O que a principio era apenas mais uma caminhada entre tantas caminhadas e tantas passadas já vividas pelo capitão, aos poucos foi se transformando. A princípio ele se perdia em tolos pensamentos, bobos, imbecis, superflúos e sem importância. Pensamentos apenas. Pensamentos apenas que em dois dias se perderiam na imensidão de uma memória. Mas ele caminhava porque aquilo que vivera era demais para se perder na imensidão da memória. Aquilo estava no centro do seu reino secreto e particular. Por isso caminhava. E então, aconteceu uma coisa. Explosão: seu corpo percebeu para onde estava rumando, e o que iria fazer.

E sua caminhada começou a se transformar. Aos poucos seu peito foi ficando um pouco apertado, e os seus pés ficaram um pouco pesados. E cada vez que ele se aproximava do campo de batalha - seu destino, sim! seu destino - seus pés iam ficando mais pesados e seu peito mais apertado. Passo após passo. Passada após passada. Segundo por segundo. Pensamento por pensamento. Porém, apesar de tudo, ele não parava de andar. Seus passos não diminuiam, cada passada, por mais dificil que fosse, era encarada. Mesmo que o peso dos seus pés aumentasse, o capitão da Decerto aumentava também a força empregada.

Por um momento sentiu aquela sensação estranha. Acho que cada um tem uma forma diferente de descrevê-la. Ele, por sua vez, a descrevia como se fosse capaz de sentir os ossos separadamente do resto do corpo. Seus passos também eram dor. Mas ele não parava de andar. Sentia como se os ossos machucassem os seus músculos dos pés. Era como se sentisse a pressão dos ossos do pé contra o próprio corpo, de forma que aquele andar era uma batalha. E quem o visse passar, achava que estava apenas caminhando.

Ao ver o campo de batalha com os próprios olhos, seus pés pesaram, o peito o sufocou. Mas ele era teimoso. E subiu cada degrau com esforço. Estava lutando. A vida de um pirata era isso mesmo: Luta. Luta contra o mundo opressor e contra as próprias fraquesas, de forma que elas não o sub-julgassem. Ele sabia que não era um adulto, não, não era. Talvez nem quisesse ser. Não precisava de nenhum título fora o seu próprio. Chegou em frente ao campo de batalha onde travaria a sua luta e disse para si: Você é jovem.

E o nome do capitão era Rilke.