Quem era aquele nobre? Estava junto do capitão Rilke um jovem menino choroso e inseguro. Era um nobre realmente? Não havia como saber ao certo. Aquele jovem estava na deriva ao mar quando foi encontrado pelo capitão Rilke. Estava no mesmo mar em que o capitão navegava, porém estava a deriva. E tem mais, aquele jovem sem nome se dizia um monstro.
Gargalhadas! Um monstro?
- Um dia você vai descobrir o que pe realmente um monstro.
- E você por algum acaso já viu um monstro?
Ficou mudo.
- Uma vez, enfrentei um Dragão.
E lhe contou sobre o Dragão que enfrentara. E o jovem encontrado no mar pensou que Rilke tinha matado o Dragão.
- Esse Dragão não morre. Ele só morrerá quando não existir homem algum mais na terra ou no mar.
E quem mais havia encontrado na vida? Bem, estava para se encontrar com um conde.
- Um conde é mais do que um príncipe.
- E menos do que um rei.
- Com quem você falou? - perguntou o jovem, mas Rilke respondeu apenas com silêncio.
Condes vivem no luxo e tem influência. Andam com cavaleiros e com eles banqueteiam, mas a verdade é que precisam dos serviços dos bandidos. Um pirata é um bandido. Além disso, condes gostam de jogos, jogos de sedução e de controle.
Rilke acreditava na palavra do Conde? Não. Por que? Porque estava falando com um conde. Que mal o pobre coitado fez para merecer esta desconfiança? Possuir poder. Mas claro que não era só isso, era também esse jeito que havia de naturalmente apressar as coisas, de falar com segurança as palavras que todos gostam de ouvir. Era isso que fazia Rilke descrer no conde.
Amanhã, quando o sol estiver observando do alto o mundo, eles estarão cara-a-cara.
- Não é perigoso?
- Levo os meus sabres. Além disso, piratas que não são pagos pelos seus serviços possuem certos direitos que nem os honrados cavaleiros podem contestar.
Mas a verdade é que piratas não poderiam ter condes como companheiros. Talvez apenas piratas. Princípes e aristocratas nunca. Ele baixou a cabeça. Nunca mesmo? Era preferível morrer assim.
- Um dia, ou o Dragão me devora ou ele me torna mais forte.
- Como?
Silêncio.
O sol nasceu.
- Ontem eu me encontrei com um professor.
- Aprendeu algo?
- Que nem sempre as coisas são como nós as esperamos. E que isso não significa que elas tenham que ser melhores ou piores. Apenas diferentes.
Era um professor que deveria ter sido morto?
Enquanto rumava para o assassinato que não aconteceu, ele se lembrou do homem da montanha. Foi uma lembrança boa, mas que ele tinha que esquecer. Se sentiu então mal por ter se lembrado. Se sentiu, na verdade, um pouco covarde. Avistou o alvo e se esqueceu.
Mas a educação, a educação, a educação... não poderia matar alguém assim. E nem salvá-lo. Tem coisas que são assim no mundo. Não se mata nem se salva.
"Um dia haverá uma grande guerra em que todos seremos soldados. É o dia em que a comida estará esgotada, assim como a água. Nesse dia, o lixo tomará conta do mundo, não haverá lugar sem doença. Nesse dia, os homens serão seus próprios inimigos, e a natureza provará que nada pode contra ela. Nesse dia, homens caçarão homens para sobreviver."
E aquilo mais pareceu uma profecia do que fatos científicos. (Teria coragem o capitão de provar da carne humana?) (Hoje ele viu pessoas comprando e consumindo, produzindo lixo e pensou consigo como é fácil destruir o próprio futuro - ele próprio não destruia?)
- Você. Já pensou em ser um pirata?
- Um dia já fui sim. Hoje sou um monstro.
- Não acredito.
De fato, não conseguia de forma alguma acreditar.
Viu hoje também um barco com um semblante real. Sabia onde deveria estar daqui a quatro dias; descobriu por meio dos vícios em luxos e da lealdade conquistada de alguém.
-Monstros precisam ser derrotados. É engraçado dizer, mas eles nascem para morrer - como com os seres humanos.
- Eu costumava ser um pirata a algum tempo. Não tão nobre como você, mas mesmo assim um pirata.
- Honrado em receber a vaga. Aceitarei, mas antes lhe aviso: ainda não sou um pirata. Sou um marujo, almejando ser algum da sua tripulação. Que tal?
- Não há vagas na Decerto para marujos. O levarei para a ilha dos corações, onde os piratas recebem suas embarcações e conhecem os nomes dos seus sabres.
E o conde? E o navio? E a batalha de quatro dias? E o destino do professor aristocrata?
O Dragão marinho espreitava Decerto, mas não podia se aproximar. A ordem para se aproximar era uma lágrima. Lágrimas são portas abertas para os combates, e combates são portas abertas para o futuro.
- Digo isso porque cabe a todo pirata ser capitão da própria embarcação.
Quando o sol nascer, haverá um sabre, uma porta e um conde esperando.
O destino é escrito. Sempre. Quando o sol nascer.
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