sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Parte Onze: Combate LADO A

O capitão deu uma parada para o resto do mundo.

Quem o visse mal poderia imaginar que era um pirata. Estava sentado, um copo de rum intocado a sua frente, roupas banais, nada de tapa-olho ou papagaio no ombro, ou mesmo perna de pau. Porque as coisas que são não precisam parecer. Ou precisam? A lei hoje em dia não é a imagem? Digo, hoje em dia não é muito mais importante a imagem? Se você não pode ter, se você não pode ter, que pelo menos possa parecer, não concordam? Bahhh, que se dane. Naquele momento ele era e tinha, mas não se importava se parecia ou não. Que se danem os outros, o que nós temos é mais importante.

Rilke observava o balcão. O que se passava dentro da taberna era um mistério. Então, eis que alguém entra na taberna, se dirige até o balcão fazendo o barulho que madeira antiga faz quando é pisada, e se senta do lado do capitão.

- Há quanto tempo, estranho.
- Há quanto tempo, estranho.
- E as suas feridas?
- Doem pouco.
- Sangram?
- Quando eu deixo.
- E por que deixa?
- Tem resposta essa pergunta? Ou melhor: se quiser a resposta, pergunte para as minhas víceras, pois elas sabem mais sobre as minhas feridas do que eu.

O homem então abaixou um pouco a cabeça e falou para a barriga do Rilke:
- E por que vocês deixam sangrar as feridas de quatro mêses atrás?

- Dá um tempo, Raymond.


- O que você vai fazer da vida?
- Não sei. O conde deve estar atrás de mim, e eu tenho curiosidade de ajudar, por assim dizer, um marujo. E ainda existe ele...

Raymond se levantou. Minha hora chegou, disse ele com os olhos. E Rilke se despediu com os olhos também, pois as coisas mais sinceras que ele tinha, só sabia dizer com os olhos.
- Não vai beber o rum?
- Eu não bebo.
Raymond pegou o copo de rum e bebeu todo o seu conteúdo de uma única vez, em um único movimento.
- Nem eu.

No mesmo instante em que saiu, por aquelas portas estilo filme de faroeste, uma outra pessoa chegou.
Estava com alguma armadura metálica leve. Era ouvível o som dos metais batendo, mas isso não atrapalhava em nada o seu andar. Isto Rilke deduziu com o ouvido.

- Rilke.
- O que quer?
- Um combate.

O capitão se virou e percebeu o cavaleiro quem o estava desafiando. O observou o rosto, cuspiou no chão. Percebeu que ele estava com uma armadura leve e que carregava na cintura uma espada.

Será que o conde enviou o cavaleiro para trazer o capitão pirata aos seus domínios?

- Um combate?

O cavaleiro sacou a sua espada, e o capitão, por reflexo, pegou um copo de rum e atirou contra o rosto do cavaleiro que, por reflexo, atirou o copo longe com o punho. Quando se deu conta, Rilke estava correndo com uma garrafa de Rum na mão, e chutou uma cadeira contra o cavaleiro, que a partiu em dois com a espada. Começaram os dois a subir as escadas. Rilke chegou no topo primeiro e atirou uma mesinha contra o seu perseguidor ao passo que tirava o seu pequeno fuzíl da cintura. Pretendia atirar no pé do cavaleiro, mas não pôde mirar porque ele estava subindo as escadas correndo e usando a mesa como escudo. Por pouco o capitão não foi pego por aquela investida, e, na cambalhota que deu, quase perdeu a garrafa de rum que um pouco rolou no não mas foi apanhada antes de cair do segundo andar. Correu ainda um pouco e se esqueirou por debaixo de uma mesa. Dizem que o cavaleiro partiu aquela mesa ao meio com um único golpe da sua espada.
Quando o cavaleiro deu por si, estava a uma média distância do pirata, que já não mais corria. Tinha em ambas as mãos garrafas de rum, que atirou contra o cavaleiro que apenas de defendeu. Os cacos de vidro não lhe causavam dano algum - tratou de proteger o rosto com o braço - porém, ficou melado de rum. Quando observou de novo o pirata, ele percebeu o que seu inimigo atinou. Rilke segurava uma lamparina acesa na mão, com um pouco de querozene ainda, e atirou-a contra o cavaleiro, que se esquivou do ataque. O chão começou a queimar por causa do rum caído, assim como as pernas do cavaleiro. O fogo não se alastrou pelo resto do corpo dele, e Rilke mostrou decepção no rosto.

O Cavaleiro puxou com mais força a espada, destruíndo uma cortina. No final do corredor, Rilke estava de pé em cima da mesa, segurando uma vassoura na posição de defesa, quando se luta com lanças. O Cavaleiro investiu no ataque. Rilke pensou consigo, que loucura estou fazendo? O cabo de vassoura foi partido ao meio na defesa, embora o pirata não tivesse sido partido. O que ele fez foi jogar a cabeça do cavaleiro contra a parede com ambas as mãos. Então o pirata pulou com toda força no candelabro da taverna, que rombeu e caiu com o capitão. A mesa em que ele caiu não quebrou. Na verdade, o pirata imaginou que suas costelas haviam quebrado no lugar da mesa, e ficou um instante lá convivendo com a própria dor. Engraçado como nossos momentos de dor parecem momentos à parte da história em que vivemos, não é? Engraçado, que nesses segundos em que uma dor se instala em nossos corpos, o mundo para, a dor surge, ocupa todo o nosso ser, e o intelecto fica em segundo plano. Embora, claro, existam as suas exeções. Infelizmente, o caso do capitão pirata da Decerto não seja uma dessas exeções. Enquanto ele estava ocupado com a sua dor, o cavaleiro se ergueu, o observou do segundo andar, desceu lentamente as escadas, e subiu a mesa usando uma cadeira como degrau.

O Capitão Rilke se levantou, pôs-se em uma posição mais digna apesar da dor, e puxou um pouco o cabo da sua espada enquanto observava o ambiente ao redor.
- Tudo bem, você terá o seu combate.

Isso ele disse sem olhar o cavaleiro que o desafiava. Havia algo, algo no seu rosto que o incomodava.

- Antes de iniciarmos, posso ao menos saber qual o seu nome?

E ao dizer essas palavras, ele olhou profundamente o nome do seu desafiante de origem desconhecida.

O cavaleiro entrou em posição de combate, apontando a espada contra o capitão pirata.
- O meu nome é Rilke.

Um comentário:

Icaro Rabelo disse...

Gzuis.
medo, aflição.
Deu até pra ver uma cena de novela.
Não digo que foi bom.
Digo que foi o melhor até a gora, deixando claro a minha preferencia por esse.
Bem escrito.
:)

Aew Rilkeeee, finalmente achou um adversário a sua altura...
Senti até o sangue saindo da sua boca.