sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte Quinze: Celebração

O capitão Rilke seguiu caminho por dois dias, chegando então a uma cidade que ficava entre uma floresta, um lago e uma montanha.
Lê entrando ele se deparou com uma grande festa. Todos celebravam os novos guerreiros que pela graça das virtudes das três Deusas conseguiram superar as suas provas finais e se tornaram guerreiros. Era o dia da celebração dos novos guerreiros que lutariam por um mundo melhor. No centro da cidade ficava uma academia e de lá sairiam aqueles que deveriam tornar o mundo um lugar melhor.
O capitão Rilke ficou sabendo disso por causa de um cidadão que festejava. Ele parecia muito responsável. Caminhou um pouco pela cidade, atrás de informações sobre onde poderia conseguir encontrar os três oráculos. Onde estaria o Templo.
- Antes da prova final os guerreiros pedem ajuda aos oráculos. É graças a elas que os guerreiros superaram a prova! Viva aos oráculos!!!, disse um cidadão ao ser questionado, mas isso foi tudo o que ele foi capaz de dizer porque estava embriagado.

O capitão Rilke bebeu dois goles de vinho e observou as pessoas ao redor. Estavam animadas, dançavam, pulavam, bebiam. Bebiam vinho. Havia um ou outro casal se beijando. Então o capitão bebeu mais um gole de vinho.
- Odeio vinho.

Tornou a perguntar sobre o templo, sobre os oráculos. Deu-se conta que algumas das pessoas que estavam na festa não pertenciam à religião que dava base para a celebração. Várias delas inclusive não sabiam nada sobe o templo ou sobre os oráculos.
- Nunca ouvi falar., disse um rapaz antes de beber dois goles de vinho e ir dançar com uma menina.

Que tipo de festa é essa? Se surpreendeu ao ver que os antigos casais se separaram e foram formados novos. É a realidade. Pelo menos existe uma pessoa responsável, que sabe das lendas e conduz parte da cerimônia. Pelo menos um responsável.

A festa corria, pessoas dançando, bebendo, beijando. Como são os nomes dos guerreiros que passaram no teste? Apenas a quarta pessoa para quem ele perguntou soube responder. Era parente dele. A cidade gritando e cantando e o pirata andando e perguntando.

Quis se perder. Por um instante ele se esqueceu de Decerto e da missão que incubira a si próprio. Ninguém o cobraria nem o repreenderia caso ele abandonasse a missão ou falhasse. Encontrou-se com uma amiga de cabelos de fogo, mas ela havia bebido tanto vinho que estava alterada. Queria dar para qualquer um. O capitão a segurou em um canto para que ela não fizesse besteira, e ela começou a chorar. O capitão tentou consolá-la, mas enquanto o fazia tudo voltou aquela mente, e ele começou a chorar a com ela.

Desistiu de se perder. Não havia mais como, Decerto o esperava. Tem coisas das quais não se podem fugir. O compromisso que um homem faz consigo mesmo é uma dessas coisas. Estava livre de qualquer perseguição por parte da mulher com asas que controlava os mortos. Ainda assim, precisava voltar, pois mais importante do que viver era ter uma vida digna.

Escreveu uma carta com o pior de si. Escreveu todas as palavras com rancor que queria dizer. Terminou. Estava de bem consigo mesmo, só faltava enviar para o correio. Era preciso enviar, mas não queria que nenhuma das suas palavras chegasse aos ouvidos do seu destino. Era o pior de si que escrevera aquilo, mas Rilke não é só pior, pois também existe um melhor de si em Rilke.
Colocou a carta no correio. Como não tinha colocado destinatário, a carta não chegaria. Eram palavras que precisavam ser ditas, porém não ouvidas. E depois de enviar a carta ele se sentou e chorou. Haviam algumas pessoas embriagadas chorando também, mas nenhuma chorava como Rilke. Seu choro era autêntico, embora disfarçado de embriagueis, pois nem todo pirata é totalmente corajoso. No final das contas ele ganhou um chocolate.

Teve uma idéia. Foi atrás do homem responsável. Talvez ele soubesse onde estaria o templo. O encontrou beijando duas meninas. Ao mesmo tempo.
Naquele arrisco ou não arrisco, ele aproveitou para arriscar. Pegou o homem responsável em uma brecha e lhe perguntou:
- Onde fica o templo dos oráculos?
O homem responsável o olhou com os tortos olhos.
- É o quê macho?
E voltou a beijar as duas garotas. Ao mesmo tempo.

Perdido, caminhando por aí, andou e pensou. Lembrou das coisas que viveu, lembrou das horas que sofreu. Sentiu a presença do Dragão que o perseguia, o vigiando, chegando sorrateiramente, mas não se importou. Nada mais importava. Seu coração estava o levando. Seus olhos não viam o que viam, estavam voltados para dentro.

- Você! Que dia é hoje?
- É dia de alegria e de festa., disse o homem no chão sem forças para se erguer e segurando uma garrafa de vinho quase vazia (parte do seu conteúdo estava no chão).

Caminhou.

Quando deu por si, estava na frente do templo. Arriscou entrar e se deparou com umas doze pessoas que agradeciam aos oráculos pelas conquistas dos jovens enquanto o resto da cidade festejava e bebia. Parou em frente a uma estatua de três jovens.

- Com licença, onde eu encontro os três oráculos?
O clérigo lhe respondeu.
- Estão diante de você.

Rilke observou as estátuas – na verdade era uma só. Das três mulheres uma estava claramente em movimento, outra segurava uma lira enquanto a terceira estava parecendo falar.

- Os três oráculos vieram para o mundo faz muito tempo, mas as pessoas não as reconheceram e as abandonaram. Ainda assim, elas suportaram muitas coisas para tornar essas terras um lugar pacífico. Enfrentaram os três monstros que dominavam essa região.
- Na floresta, na montanha e no lago. É?
- Sim. Exatamente. Mas, o que você procura viajante?
- Respostas.

- Uma delas toca música, a outra dança e a terceira canta e declama poesias. São as Deusas da coragem, da força e da sabedoria.

- Um dia um viajante de longe aparecerá e...
- Obrigado pela sua ajuda.
- Já vai?
- Sim. Já sei as respostas das perguntas as quais não conheço.

E foi assim que aconteceu, naquelas poucas frases enquanto a cidade celebrava.

Um comentário:

Icaro Rabelo disse...

Eu li, e até gostei. Misturou alguma coisa cearense e roubou uma gargalhada baixa de mim.
Bem, torcendo por Rilke, que aparentemente vai ganhar a vitória.