quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Parte Dez: 57 horas sem dormir LADO B

Quando acordou, percebeu que o pirata mais calado dormia. Desta vez, de verdade pois ele passou bastante tempo sem acordar ou sem se mover.

Naquela tarde os novos amigos o prenderam por um tempo. É engraçado encontrar pessoas novas hospitaleiras enquanto algumas velhas conhecidas não são muito hospitaleiras. Na verdade, algumas vezes é mais fácil ser hospitaleiro com os novos conhecidos e nem um pouco interessado pelos antigos. Se isso é ruim eu não sei. Só sei que isso pode até servir para provar como o homem foi feito para o novo. Será mesmo?

O capitão Rilke voltou para a Decerto já se preparando para um combate. Não sabia se realmente iria, pois talvez em pouco tempo ele iria se sentir de novo cançado. Naquele momento não se sentia assim.

O local?

Encontro.

Vestiu-se como se vestem os nobres. Tanto que levou consigo um dos seus Sabres na cintura. Tinha ele cinco. Olhou a lâmina prateada reluzente e desejou que ela nunca enferrujasse. Não por sua beleza, mas pelo seu valor. Além disso, sabres são exelentes armas, superiores as espadas, por serem mais bem trabalhadas, e também por isso custam mais caro.

Estava ele lá há mais de 24 horas sem dormir e se aproximando das 36. Antes mesmo de chegar, o encontrou: o homem da montanha. Aquela pessoa de quem se lembrava em momentos que não o lembrava, como quando você está palitando os dentes ou quando toca violão: você nunca tocou violão com ela, a música não a lembra, você nunca viveu nada que tivesse palitos de dente com essa pessoa mas.... lá está a lembrança, e por causa disso, achamos que essas coisas nos lembram ela.

(Na verdade ela se lembra a si mesma no nada.)

Música, dança e rum. Algumas pessoas se beijando. Rilke fez questão de ficar de costas para o homem da montanha que uma vez o ignorou. Queria tê-lo apenas as costas. É engraçada a força, a coragem e a sabedoria. Mas sabe, talvez ele não tenha feito isso por ordem da sabedoria... muito provavelmente fez isso por ter dado ouvidos às próprias víceras.

E foi então que (grande surpresa) que o homem da montanha veio falar com o Capitão Rilke.
- Oláááá... o que você faz aqui?
- É que hoje é o ultimo dia e eu resolvi vim aqui.
- O mundo vai acabar? Ultimo dia?
- Depois de amanhã embarcarei em uma viagem.
- E você veio sozinho?
- Sim, eu vim sozinho.
- Ninguém?
- Ninguém.
- ...

E então, devido ao silêncio e falta de interesse do capitão Rilke, o homem da montanha saiu dalí, e o capitão pirata pouco se importou e quase não lamentou, mas por muito pouco.
- Morreram nossos diálogos.

A menos que... mais uma chance. Uma ultima chance, pensou consigo o capitão. Se ele tiver de novo a audácia... teria? O capitão pensou consigo que o homem não tinha deixado a montanha, sendo assim, haviam ainda os muros.

- Quem colocou os muros não fui eu mesmo? Ou as barreiras era que o impediam de se aproximar de verdade? Quer dizer, ele nada mencionou sobre o que antes ocorreu. Teve a audácia de vir me cumprimentar, mas o fez como se estivesse tudo bem. É um covarde.

- Sim, as pessoas não se encontram, elas se conectam. Elas se esbarram e se contentam com o contato do esbarro, como se nada mais houvesse.

E quis o capitão encontrar alguma coisa, pois naquele lugar ele nada encontrou. O que aconteceu é que por algum tempo ele se conectou com alguém, e esse alguém, esse homem da montanha, cheio de vistas dos mais incriveis lugares, e cercado de obstáculos, paredes e gaviões; esse alguém apenas quis um esbarrão comôdo.

- Um grande covarde.

Naquela noite ainda ele quise perder. Começou a olhar ao redor. Depois de beber alguns goles de veneno, percebeu o que estava fazendo. Mas não tinha como voltar atrás. Cousa. Sentou-se, esperando reduzir os efeitos do veneno, mas o pior era o gosto na boca que não passava, o fazendo lembrar o momento de covardia.

Sacou o sabre e observou a sua lâmina prateada. Valia tanto assim que não poderia vender? Valia a pena passar problemas por tê-lo ao invés de trocar seus sabres por outras coisas? Pouco importava o seu poder frente as espadas e outras armas, assim como o seu valor, a ponto de um sabre poder comprar doze Decertos. Tinha cinco sabres. Percebeu a coencidência. Sorriu.

Então o jovem pirata percebeu que alguém vinha em sua direção. Era ele! O homem da montanha! Olhou para a esquerda, como que para se fingir de sonço, mas não conseguiu se conter e dirigiu seu olhar para o do homem que desviou-se para a esquerda como se o capitão não existisse. Ele ficou boquiaberto por um segundo. Olhou para a esquerda e viu o homem da montanha se arrumando frente a um espelho. Se odiou profundamente por ter olhado para a esquerda, quis prometer para si mesmo que nunca mais o faria. O homem da montanha, terminando de se arrumar, se dirigiu para a direção do pirata Rilke, mas, antes do primeiro passo, o corpo do capitão teve uma reação quase que instantania: se levantou e caminhou em direção ao homem da montanha. Passaram um pelo outro. Rilke não o olhou. Rilke não olhou para trás. Não desta vez. Nunca mais para este... e viu o homem da montanha se aproximando. Olhou para a frente, um ponto qualquer, e viu o homem passar por esse ponto sem nem olhar para o lado, sem ne olhar para o capitão.

- E não havia outro caminho para ir se encontrar com os seus amigos, que não fosse passando por mim, sua peste!

Era como se uma guerra estivesse declarada.

Ele voltou para Decerto. Tirou outro cochilo e depois acordou. Não podia dormir, pois precisava regular o seu relógio biológico para a viagem que iria fazer. Era meio dia quando ele acordou e ele precisava dormir apenas dez ou nove da noite.

De noite, quando deu 56 o total de horas que ele passou acordado, em uma conversa que durou uma hora, ele ouviu dizer que a saudade que sentia era recíproca. Então o capitão Rilke se recolheu e tentou dormir. Em vão. Alguma coisa dentro daquele corpo cançado se movia e lhe impedia de fechar os olhos, de não se mover e se agitar.

E apesar de tudo, na verdade mesmo, a quantidade horas que ele passou acordado ultrapassou sessenta.

2 comentários:

Rilke disse...

Desculpe se ficou sem graça.
E eu tenho um favor a pedir: quem ler isto, por favor, ore por um Rafael, para que ele não pague por um erro meu. Ainda que tenha se passado um ano desde que o meu pedido foi feito, por favor, ore.

Icaro Rabelo disse...

Em nome de Deus capitão, porque colocaste muros? Porque quiseste prender aquilo que tanto queria?

Medo?
Não há parede que prenda alguém. Os laços são feitos por uma linha tênue, invisivel. A linha é resistente e se desgasta com o tempo, na maioria das vezes.
É o melhor laço do mundo.
Ganha de qualquer muro ou castelo.