quarta-feira, 23 de julho de 2008

Parte Cinco: As cordas de um violão ou "porque eu sei que vou morrer"

E assim Decerto ficou vagando no mar, quase sem rumo. E o seu bravo capitão perdido enquanto olhava para as nuvens com a bussula do lado, mas sem nela prestar atenção. Quem visse de longe não poderia imaginar que o pirata estava navegando na verdade. Decerto rumava para o Bosque, onde Rilke se encontraria com o Bardo.

Bardos são pessoas encarregadas de transmitir histórias, lendas e poemas de forma oral, cantando e tocando instrumentos. Eram mais do que músicos simplesmente, mas ainde eram músicos, e provavelmente ele havia de saber afinar um violão. Isso porque Rilke tinha um violão, mas não sabia afiná-lo. Mal sabia como tocar nele - apenas algumas músicas, algumas expetaculares, mas todas simples de se tocar. Isso porque ele gostava de tocar, mas seu talento mesmo eram os sabres e o leme da Decerto.

Mas tal encontro não era só a afinação das cordas, mas também tentação. Será? Não havia nada muito explícito, mas havia algo no ar. E o capitão estava precisando desses prazeres ultimamente... e o veneno? Veneno aquele que não mataria, mas traria uma perda e uma mancha apenas. Direi o porquê.

Aquele Bardo já havia feito parte da corte de um princípe de um reino vizinho ao reino em que o Capitão havia se embrenhado. O próprio conhecia o outro princípe e tinha uma estima por ele. Mas acontece que Bardos são seres errantes, está em seu sangue. Eles não se fixam direito e nem se prendem a um reino, almejando o "para sempre".

Rilke estava indefeso. Não havia levado nenhum dos seus sabres. Apenas o violão desafinado, que logo foi afinado pelo Bardo, ainda que com alguma demora. E aconteceu que os dois conversaram um pouco e Rilke não deu espaço para a tentação do veneno. Eu digo tentação porque os verdadeiros venenos não são ruins de gosto, mas muito, muito saborosos.

Naquela noite ele estava à mercê daquele Bardo. O capitão desejava o veneno. Mas desejos são desejos, e os fortes lutam contra os desejos que julgam desnecessários ou prejudiciais. Além disso, havia alguma outra coisa...

Todo dia o capitão tentava colocar na cabeça que ele era mortal. Ele dizia para si mesmo "Hoje eu posso morrer na hora em que menos esperar". E se você acha que isso o fazia viver pior, na verdade ele tinha mais forças para viver por causa disso. E principalmente, ele tirava daí forças para viver melhor.

(pois imaginava que se fosse morrer naquele instante em que não esperava, queria morrer sem que a ultima coisa que tivesse feito fosse magoar alguém, por mais que fosse alguém de um reino distante, que havia se mostrado um pouco apático as suas cartas)

Aquela noite foi mais um vitória. Porém, o capitão ficou com algo lhe inquietando. Pretendia se perder para depois se encontrar, mas... e se ele morresse antes de se encontrar?

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