segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Parte Doze: Combate LADO B

- Então o seu nome é Rilke...


Com estas palavras o capitão da Decerto pôs-se em posição de combate. Se encararam por um instante os dois Rilkes. O pirata apontado o Sabre em direção ao cavaleiro de espada. Aproximou-se, apenas dois passos. A ponta do sabre encostou na ponta da espada. Era um momento de tensão e de grande estranheza para o Rilke pirata. Naquele momento, com tudo o que estava acontecendo, como se não tivesse realmente nada pra pensar, acabou imaginando o que iria acontecer se surgisse alguém e chamasse pelo nome Rilke. Não que isso fosse acontecer, mas ele assim imaginou. E em que momento imaginou!


O pirata avançou com o seu sabre na direção do inimigo que evitou o ataque com a espada. Mais uma vez, e moveu-se para atacar. O cavaleiro leu o seu movimento: corte pela esquerda. Com a espada bloqueou, e planejou atacar pela esquerda, em uma lua de baixo para cima. O corpo do capitão reagiu a tempo, a espada passou de raspão no ombro do capitão, que apenas depois percebeu o que acontecera, e quando deu por si já tinha feito uma investida contra o cavaleiro, fazendo um corte no seu pescoço. Ele se movia primeiro, e depois pensava. Era o instinto que o movia. Ambos tinham técnica, haviam treinado as artes das lâminas, mas o pirata era movido pelo instinto. O cavaleiro deu mais uma investida, sendo aparada a espada pelo sabre. Com um movimento, o Rilke cavaleiro deu uma volta e tentou atingir o Rilke pirata que sacou uma adaga e parou a lâmina. Se olharam por um instante, as duas lâminas do capitão segurando como uma tesoura a espada do cavaleiro.

Então os dois Rilkes guardaram as suas armas.
- Aqui não é lugar.
- Concordo.
- Tenho uma idéia de onde poderia ser o lugar.
- Para mim está bem.


Saíram da Taverna os dois, e começaram a caminhar por entre as árvores de uma floresta, em silêncio. O pirata com o seu sabre guardado na bainha e o cavaleiro com a sua espada em mãos. Rilke, o pirata, sabia que podia contar com a honra do seu adversário, enquanto Rilke, o cavaleiro, não podia contar com ela, pois o seu adversário era um pirata. E os piratas, por mais que fossem honrados, não podiam esperar que ninguém confiasse na sua honra, pois são piratas. E isso fazia a vitória dos piratas maiores. Diferentemente do que sabemos, a vitória não é algo de grande sabor e prazer, mas sim um grande ato de dor, pois é através dela que a alcançamos. Sim, por mais difícil que seja para qualquer um aceitar, as verdadeiras vitórias não são alcançadas com suor, mas sim com sangue.

Chegaram ao lugar do confronto. Uma pequena elevação rochosa frente ao mar. Era possível ver a Decerto dali, que escondida entre as grandes rochas. Logo aquele lugar.

Quando se virou em direção ao seu desafiante, ele já estava em posição de combate, esperando o capitão fazer o mesmo. Ele o fez, e disse:
- Boa sorte.
- Igualmente.

Então os dois voaram, um em direção do outro, e do rápido primeiro encontro das lâminas, faíscas saltaram. Então as espadas novamente se encontraram, de forma mais demorada. Ambos ficaram face a face, demonstrando a força que faziam nos braços com os rostos. Ambos recuaram dois passos, preparando-se para um novo embate e foi então que aconteceu. O primeiro golpe. A lâmina da espada deu uma grande investida e o capitão pirata, ao invés de defender-se com o sabre, deu um salto para trás, resultando em um rasgão nas suas roupas e algumas gotas de sangue escorrendo por este rasgão.

O capitão Rilke encarou o seu adversário: ele o odiava. Acontecia do Rilke pirata nunca odiar ninguém, apenas uma vez e por um dia um tal homem cercado por gaviões e uma vez, por um final de semana, um príncipe. Mas dos homens contra quem lutava, não nutria ódio algum, pois cada pessoa que luta, luta por alguma coisa, e movido por alguma força, alguma paixão.

O capitão segurou firmemente o cabo da espada com uma das mãos e partiu com tudo contra o cavaleiro. Por isso eram ruidosos os encontros das lâminas as armas dos dois combatentes. O Capitão Rilke cortou o Cavaleiro Rilke duas vezes, tirando também sangue, do seu ombro, mas a custa de um grande corte que recebeu nas costas. Caiu de joelhos, e a primeira coisa que avistou foi Decerto ancorada. Em um salto, já estava novamente de pé. Virou-se e tentou acertar o cavaleiro com um golpe falso. A espada do seu adversário recuou, e no intervalo de tempo que havia para atacar, o capitão se jogou contra o cavaleiro e o seu sabre lhe cortou a armadura. Estavam mais uma vez cara a cara. Rilke percebeu que realmente não gostava do seu adversário, então...

Quando deu por si, já estava no chão, apoiando-se com os joelhos e as mãos. O golpe lhe havia acertado o braço direito e a coxa esquerda. Cuspiu sangue. Mas não uma rajada de sangue, como sempre vemos nos filmes; ele cuspiu apenas algumas gotas de sangue. Havia um corte no seu abdômen também. Como? Perdeu-se no olhar. Perdeu-se em um olhar.

Os dois ficaram um pouco em silêncio. O capitão mais uma vez cuspiu sangue, e o Rilke cavaleiro quebrou o silêncio com as suas palavras.
- Por que não soltou o sabre?

Aquelas palavras feriram o capitão. Mais do que os cortes que ele tinha pelo corpo. Ele não soltou o sabre que carregava, apesar do ataque que havia recebido. Ele riu. Pensou consigo “justamente o terceiro”, e cravou a espada no chão, tentou levantar-se a usando como apoio. Se ele pudesse ficar de pé, havia como vencer a luta. O cavaleiro também estava exausto e também estava ferido.

- É por ele que você luta, não é?

O capitão Rilke ficou surpreso com a pergunta. Olhou no rosto do seu adversário e percebeu que este também estava surpreso. Os lábios do cavaleiro voltaram a se mecher.

- Sim, você luta por ele. Neste instante ele talvez esteja dando a bunda e nem se lembre da sua existência. Talvez ele já tenha se entregado ao mundo dos prazeres dentro daquele grande castelo, talvez ele já tenha até te esquecido, esquecido tudo o que você o ensinou, ou pior: talvez ele tenha até pisado em toda esperança que você colocou nele, mesmo na partida; mas ainda assim você luta por ele. Luta para construir um mundo melhor na esperança deste mundo também o alcançar.

O pirata se pôs de pé e retirou o sabre cravado do chão. Disse baixo:
- Quem sou eu?

- Me enfrente, e talvez você descubra.

Os dois ficaram novamente em posição de batalha. Encararam-se por um segundo.
- Este será o ultimo golpe.
- Era justamente isto que eu ia lhe dizer.

Então correram um na direção do outro, com todas as forças e novamente as lâminas se encontraram. Os dois colocaram toda a força que tinham, frente a frente, lâmina contra lâmina. O capitão pirata sentiu que ia perder a batalha, já não tinha mais forças para lutar. E quando ele estava para perder... o capitão segura com a mão a lâmina da espada do seu adversário e a empurra para baixo, cortando a sua palma. E naquele segundo em que o cavaleiro estava sem nenhuma defesa, cravou a ponta do seu sabre no abdômen do adversário.

O cavaleiro cuspiu sangue, mas em maior quantidade. Se olharam mais uma vez. O capitão pirata perdeu o equilíbrio e caiu no mar, deixando o adversário vivo e sangrando no chão. Sim, ele sobreviveria.

No instante seguinte, o capitão já estava na Decerto. Como ele fez para nadar e subir até o navio nas condições em que se encontrava, é um mistério. Mas o que se seguiu se seguiu em silêncio. Ainda molhado, ele se pôs na frente do Timão da Decerto e com o sabre o partiu em três ou quatro pedaços. Tirou a âncora que prendia Decerto naquele lugar, deixando-a livre. Então ele cravou o sabre no chão de madeira da sua embarcação e sentou-se apoiando as costas no Sabre. Só então, observando as nuvens dos céus que balançavam como o mar, ele percebeu que não havia largado o sabre um segundo sequer.

Um comentário:

Icaro Rabelo disse...

Ai Dels, to tremendo.
:D

Minhas pernas ficaram bambas.
Prefiro comentar amanhã, nesse mesmo post.
Ainda to digerindo. Meus dedos tremem