quarta-feira, 16 de julho de 2008

Parte Um: Medo

Ele não estava conseguindo aprender por meio dos ouvidos, por isso, resolveu que aprenderia por meio dos olhos.

Chegando até o cais ele ancorou seu navio - Decerto - e saiu em direção ao campo de batalha. Lá ele conseguiria aprender. Lá estava tudo o que ele precisava ver. Como sabia? Ora, não havia aprendido por meio dos ouvidos, agia como se não tivesse aprendido - verdade - e portanto sabia do campo de batalha e da grande luta que o esperava.

Então ele começou a caminhar em direção ao lugar. O que a principio era apenas mais uma caminhada entre tantas caminhadas e tantas passadas já vividas pelo capitão, aos poucos foi se transformando. A princípio ele se perdia em tolos pensamentos, bobos, imbecis, superflúos e sem importância. Pensamentos apenas. Pensamentos apenas que em dois dias se perderiam na imensidão de uma memória. Mas ele caminhava porque aquilo que vivera era demais para se perder na imensidão da memória. Aquilo estava no centro do seu reino secreto e particular. Por isso caminhava. E então, aconteceu uma coisa. Explosão: seu corpo percebeu para onde estava rumando, e o que iria fazer.

E sua caminhada começou a se transformar. Aos poucos seu peito foi ficando um pouco apertado, e os seus pés ficaram um pouco pesados. E cada vez que ele se aproximava do campo de batalha - seu destino, sim! seu destino - seus pés iam ficando mais pesados e seu peito mais apertado. Passo após passo. Passada após passada. Segundo por segundo. Pensamento por pensamento. Porém, apesar de tudo, ele não parava de andar. Seus passos não diminuiam, cada passada, por mais dificil que fosse, era encarada. Mesmo que o peso dos seus pés aumentasse, o capitão da Decerto aumentava também a força empregada.

Por um momento sentiu aquela sensação estranha. Acho que cada um tem uma forma diferente de descrevê-la. Ele, por sua vez, a descrevia como se fosse capaz de sentir os ossos separadamente do resto do corpo. Seus passos também eram dor. Mas ele não parava de andar. Sentia como se os ossos machucassem os seus músculos dos pés. Era como se sentisse a pressão dos ossos do pé contra o próprio corpo, de forma que aquele andar era uma batalha. E quem o visse passar, achava que estava apenas caminhando.

Ao ver o campo de batalha com os próprios olhos, seus pés pesaram, o peito o sufocou. Mas ele era teimoso. E subiu cada degrau com esforço. Estava lutando. A vida de um pirata era isso mesmo: Luta. Luta contra o mundo opressor e contra as próprias fraquesas, de forma que elas não o sub-julgassem. Ele sabia que não era um adulto, não, não era. Talvez nem quisesse ser. Não precisava de nenhum título fora o seu próprio. Chegou em frente ao campo de batalha onde travaria a sua luta e disse para si: Você é jovem.

E o nome do capitão era Rilke.

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