O capitão Rilke acordou, embora ainda houvesse um breu no seu quarto. Pegou os dois sabres com o qual estava, destrancou a porta e saiu. Percebeu marcas no lado exterior da porta, arranhões. Andou cautelosamente pelos corredores, com um sabre à mão e o lampião na outra. Deu ma olhada rápida na dispensa e mastigou umas poucas bolachas que sobraram. Então se dirigiu à sala onde guardava os seus tesouros. Não havia marca nenhuma na porta, e isso trouxe grande alívio para o capitão Rilke. Ele entrou e trancou-se lá dentro.
Começou a arrumar as coisas. Tinha a pretenção de sair daquele lugar e de posteriormente voltar. Descobriria uma forma de tirar Decerto do cemitério antes que ela aprodecesse. Ele não tinha a menor garantia de que existia essa forma, mas ainda assim ele pretendia seguir em frente, e não desistiria do seu objetivo. Achou-se a pessoa mais forte do mundo.
Rilke colocou todos os sabres na estante que tinha para eles. Tinha esse costume, antes de escolher quais iria levar consigo ele os colocava todos na estante onde eles são guardados, inclusive os sabres que carregava consigo, e só então escolhia quais levar. Resolveu ele que carregaria o segundo, o terceiro e o quinto sabre. O primeiro e o quarto permaneceriam.
Quando saiu o que viu foi uma imensidão cinza. Cinza. Era assim o tempo no Cemitério quando o sol estava a pino, enquanto que de noite a escuridão dominava. Pelo menos não fazia calor. Sua retirada daquele lugar seria naquela hora, quando as coisas estavam mais visíveis - ou menos invisíveis. Desceu da Decerto e começou a andar pelos restos de outras embarcações que haviam por lá. Olhou para trás e encarou Decerto, sua embarcação.
- Isso não é um Adeus, é um até logo.
Dizem que na verdade não foi Ira Divina que transformou Pravoka neste cenário de morte, mas sim o azar. Dizem que um Dragão Negro muito forte resolveu tomar aquela região como seu dominío, e que as alterações naquele lugar como a água escura e o céu fechado são efeitos da permanência da criatura, pois Dragões e criatura de grande poder são capazes de mudar o ambiente ao seu redor se permanecerem por algum tempo.
Quando Luto estava próximo Rilke sabia. Algo de diferente havia no ar. Porém, o Dragão marinho que perseguia o Capitão Rilke estava o vigiando agora à distância. De fora do cemitério. Luto não queria se aproximar, mas ainda estava próximo à Rilke, e o pirata sabia disso por causa da sensação que tinha quando o Dragão Marinho estava próximo.
Rilke andou um pouco, pulando de resto em resto de embarcações. Não queria tocar na água. Tinha medo. Mas só porque tinha medo, não necessáriamente precisava tocar na água para vencê-lo.
Avistou um vulto na proa de um navio negreiro não distante. Ficou quieto e em silêncio, apenas observando o vulto se movendo lentamente até desaparecer. Então continuou a andar, sem olhar para trás. Parou um instante, pois pareceu ouvir algo. Aquilo gelava a sua alma, embora não pudesse reconhecer direito o que era.
Andou por cima de um mastro boiando. Aquele mastro era tudo o que sobrou de um grande navio imperial. Por ser grande, era possivel ficar em pé nele, sem escorregar para os lados. Subiu em uma embarcação de médio porte, mais ou menos do tamanho da Decerto. Avistou terra firme naquele quase pantâno. Também observou Decerto. Que destino teria?
Aconteceu de Rilke, naquela mesma embarcação, ter a impressão de que viu alguém nas redes das velas. Aquele lugar era de gelar a espinha. Ficou olhando o lugar por um tempo, mas o vento atrapalhava balançando as velas. Então, sentiu uma presença, esta que vinha da sala do capitão. Havia alguém lá. Sim, este lugar dá nos nervos! Ficou em dúvida se chamava por alguém, era notável seu nervosismo. Então a porta se abriu sozinha e muito, mas muito lentamente. Rilke ficou parado. Quando a porta terminou de abrir, a escuridão era tamanha que não era possível ver nada dentro. Rilke segurava um dos sabres pelo cabo, sem tirá-lo da bainha ainda. Então se lembrou de que estava sozinho. Se ele estivesse com três sabres em mãos, quem poderia chamá-lo de ridículo ou de medroso? Ainda assim, permaneceu do jeito que estava.
A visão de adaptou e Rilke viu que não havia nada lá. Tranquilidade momentânia que foi interrompida por um sussurro gutural de grande lamento e pesar, e que apontava vir do vazio daquela sala. Rilke deu meia volta e saiu. Andou mais um pouco, a mão no cabo do sabre, o terceiro, e ele em instantes chegou na terra firme. Estava proximo de sair daquele lugar, quando um mercenário puxou a espada e colocou a ponta lâmina no pescoço do pirata. Então, lentamente o mercenário moveu a sua espada indicando uma direção. Rilke viu para onde ele apontava, para uma caverna, e quando deu por si o mercenário não estava mais lá.
A Caverna era um túnel largo que levava para uma câmara onde estava uma mulher com roupas de muito luxo e asas de gavião saindo das costas, enormes, e da cabeça, muito curtos.
- Se apresente.
- Eu sou o Pirata Rilke, capitão da ilustre Decerto, embarcação nascida para o mar, e portador de cinco sabres.
- Ora, mas que presença ilustre e cheia de títulos. Desde que os quatro cavaleiros passaram por aqui que este lugar não recebe visitas tão honradas.
Havia um tom de sarcasmo na sua voz.
Quando deu por si, estava ele cercado de cavaleiros, desportistas e piratas, todos com espadas e alguns com sabres nas mãos.
- O terror estampado em sua cara me é muito prazeroso.
- O que deseja.
- Saber quem você é. E, se eu não gostar de você, não o deixarei partir. Se gostar, pode ir embora e nunca mais voltar.
O coração do Capitão Rilke acelerou. Precisava agradar aquela mulher, mas...
- Eu vou voltar. Não posso deixar a minha embarcação aqui.
- Que tipo de mentira é essa?
- Não é mentira. Estou saindo com o intuito de encontrar uma forma de tirá-la daqui. Imagino eu que seja com um Timão Novo, então, quando o tiver em mãos eu voltarei e irei retirar minha embarcação daqui.
- Hummmmm...
- Me desculpe por não tentar lhe agradar, mas preciso dizer a verdade.
- Não, você me agradou. Um ser mediocre como você, tentando viver de uma forma não tão mediocre, lutando para ser alguma coisa. Sim, eu vejo através de você, pois todos vocês são muito fracos.
- Porém, são aqueles que me agradam que na verdade ficam presos aqui.
Dizendo isso todos os presentes na sala sacaram suas armas.
- Porém...
E aquela mulher se deliciou com o misto de emoções que passavam pelo capitão Rilke, desespero e esperança. O efeito de um porém na vida de uma pessoa.
- Vou lhe dar uma chance.
- Seu navio foi o ultimo a chegar não foi? Pois bem, ele ainda está vivo, porém, sua embarcação está começando a morrer, e vai morrer aos poucos enquanto estiver aqui. Irá demorar um pouco mais do que o normal, por sua causa, mas ainda assim irá morrer.
- Se quiser salvar a sua embarcação, você vai ter que descobrir três perguntas, cujas respostas você já sabe. Essas três perguntas você só saberá quando decifrar as respostas, e você só as decifrará em combate. Existe uma montanha, um lago e uma floresta. Mas antes você deve encontrar uma igreja se encontrar com três oráculos de uma religião famosa por essas bandas.
- E quando você souber as perguntas, volte, e então, se estiverem corretas, lhe direi como remover Decerto daqui; mas se estiverem erradas, você será como eles. Apenas uma sombra do passado.
Rilke consentiu.
- Existe mais um porém para você. Uma pergunta, e quero sua resposta. Como saberei que você realmente vai voltar?
Rilke disse sem pensar.
- Com uma garantia.
A resposta só poderia ser essa.
- Quero de você algo que valha mais do que a sua vida, algo que você não poderia deixar para trás, por nada nesse mundo. Existe tal coisa? É a minha condição.
- Existe.
Então o capitão Rilke retirou um dos seus sabre e se aproximou da mulher. Todos os guardas delas avançaram para o capitão, mas suas lâminas cortaram apenas o ar, atravessando o corpo do capitão sem lhe causar dano. Rilke segurou o sabre pela lâmina e estendeu o cabo para a mulher, que segurou o sabre e contemplou o próprio rosto refletido na lâmina.
- É um belo sabre?
- Para mim é uma das cinco mais valiosas peças que existem no mundo. Não existe nada de tão precioso que valha a pena deixá-la para trás.
Era o segundo dos cinco.
- Pode ir então.
O capitão Rilke deu meia volta e se retirou. Antes de sair, a mulher com quem conversou lhe dirigiu a palavra pela ultima vez.
- Rilke......... não morra antes de voltar.
Ele saiu daquele aposento, e só então se permitiu viver todos os terríveis sentimentos que teve lá. Teve vontade de chorar. Sim, ele iria chorar, mas apenas depois, quando estivesse longe dalí. E o que sentiu foi algo tão forte, que ele nem voltou para dizer o que tinha esquecido de dizer. Ele apenas se retirou e pensou nas exatas palavras que queria ter dito: Cuide disso com a sua vida.
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